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Ecce Homo - De Como A Gente Se Torna O Que A Gente É
(Friedrich Nietzsche)

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Além de ter sido um gênio no sentido mais amplo do termo, Nietzsche (1844-1900) também foi um dos mais refinados humoristas de seu tempo, um sátiro do mesmo quilate de Voltaire. E não estou brincando com relação a isso, tão pouco menosprezando a fantástica obra nietzschiana ao enfatizar sua veia humorística, mas apenas ressaltando que esta a impressão que se tem logo ao ler as primeiras páginas de "Ecce Homo" e exemplifica plausivelmente uma das máximas gislescas de que nada é mais hilariante do que a mais pura verdade.A extraordinária autobiografia nietzschiana é um antro da mais grandiosa e contundente ode a si mesmo. Com uma escrita apurada e cheia de deliciosas referências, ele mostra a quem ainda não se dignou a notar, o porquê de ser tão inteligente, o porquê de escrever livros tão bons, o porquê de ser tão sábio... E ainda nos leva em uma viagem pelos bastidores de sua impecável obra literofilosófica, comentando seus livros, com um humor acrimonioso atirado por uma metralhadora giratória.Nietzsche é sempre atual porque sempre esteve, enclichezadamente falando, muito à frente de seu tempo. Ele não conseguiu, em vida, nem um doze avos do reconhecimento de que era merecedor, e o que poderia ter sido um empecilho, parece ter sido a grande inspiração para que ele escrevesse este que foi o último suspiro antes do colapso mental que o atacou, a paralisia que o levaria à morte.Logo no prólogo, ele já manda uma bala que atinge o alvo antes que este tenha tempo de dizer "Zaratustra", dizendo que "O desequilíbrio entre a grandeza de minha tarefa e a pequenez de meus contemporâneos ficou expresso no fato de que não me ouviram, nem sequer me viram." Referindo-se a seu projeto de "Transvaloração de Todos os Valores", que incluía "As Canções e Zaratustra" (publicado postumamente sob o titulo de "Ditirambos de Dioniso") "O Anticristo", "Ecce Homo" e mais um, que não chegou a ficar pronto, ele esclarece que esta seria a mais pesada exigência que jamais foi colocada à humanidade. Alguém ainda duvida?E o ritmo é constante, porém, nada monótono, sempre enfatizando a si mesmo como o grande pensador que fora e como o "ar das alturas", de sua obra, poderia ser prejudicial aos que não tinham sido talhados para respirá-lo. Entre um golpe e outro, ele demonstra sua gratidão a si mesmo e ao ano glorioso que teve (1888), em que trouxe à vida seu já citado projeto de transvaloração dos valores, "Crepúsculo dos Ídolos" e o próprio "Ecce Homo", suas tentativas de filosofar com o martelo. Noutra forma de se auto-elogiar e provar o porquê de não ser um décadent, fala de seu pai, "frágil, amável e mórbido, destinado à transitoriedade, uma lembrança bondosa da vida, e não a vida em si"; da mãe e da irmã, "quando eu procuro o mais profundo dos antagonismos a mim mesmo, a baixeza incalculável dos instintos, sempre encontro minha mãe e minha irmã"; e, especialmente, contra-ataca os alemães, seus alvos favoritos: "Sou estranho a tudo que é alemão, de modo que tão-só a proximidade de um alemão retarda a minha digestão".Entre seus "iguais", ele coloca o casal Wagner, dizendo que "Cosima (mulher de Richard) é, de longe, a natureza mais nobre, a única mulher digna a receber o primeiro exemplar de Ecce Homo. E Richard, é o homem mais aparentado comigo... O resto é silêncio..." O tal do silêncio pode ser exemplificado pelo papel social da mulher (especialmente a do final do século XIX), que ele diz ter o páthos agressivo, ser vingativa, e por isso, fraca. Elogia Stendhal, que lhe "roubou" um dos seus melhores aforismos ateus ("Qual foi a maior objeção à existência feita até hoje? Deus"); Baudelaire, "que foi o primeiro a entender Delacroix e Wagner" e mais uns poucos sortudos.Num dos motivos que explicam sua larga sabedoria e seu caráter benéfico por ser maligno, ele cita o método de desforra: mandar o mais rápido possível, uma atitude inteligente atrás de uma burrice, pois assim talvez a mesma ainda possa ser alcançada. "Basta que me façam algo de mau, que em pouco tempo encontro uma oportunidade de expressar meu agradecimento ao "malfeitor" ou de pedir algo a ele, o que pode ser mais cortês do que dar alguma coisa."Ainda divaga, com muita coerência, sobre o tipo de recreação ("ler me relaxa de minha própria seriedade"), a nutrição (pro diabo a culinária alemã!), o local e o clima (seco, de Paris, Atenas, Florença) corretos para extrair o melhor de si mesmo; critica o estilo de viver "sobre as nádegas", que alguns ostentam; os "wagnerianos et hoc genus omne, que acreditam honrar a Wagner pelo fato de se considerarem semelhantes a ele".E explica "que a gente se torne o que a gente é pressupõe que a gente não saiba o que a gente é. Até mesmo as decisões erradas têm seu valor e seu sentido peculiar".Sobre a solidão, além do que foi feito no majestoso "Assim Falou Zaratustra", ele sintetiza tudo numa única frase: "minha humanidade não consiste em sentir junto com a pessoa como ela é, mas sim em suportar o fato de senti-la". E completa, primorosamente: "Sofrer por causa da solidão também é uma objeção ? eu sempre sofri tão-só por causa da 'multidão'". Amém.



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