Quando Nietzsche Chorou
(Irvin D. Yalom)
Li este livro por gostar (muito) de filosofia e por todo o barulho que a mídia fez em torno dele. Minhas espectativas quanto as questões filosóficas discutidas durante a história foram satisfeitas, e o livro me colocou ansioso para ler as obras de Nietzsche. Quanto a história, essa deixou a desejar. Não que seja ruim, mas é um pouco monótona, com muitas descrições e prováveis interpretações de sonhos e conversas com no máximo três pessoas em um mesmo recinto. Você procura emoção ao estilo Dan Brown? Este livro não é para você. Agora, se você gosta de personagens históricos onde um pouco da personalidade é resgatada através das idéias e obras deles, ou se gosta de imaginar "como seria se tal coisa tivesse acontecido?", ficará muito satisfeito lendo Quando Nietzsche Chorou. A história é bastante simples: a jovem Lou Salomé procura o doutor Josef Breuer (um dos pais da psicanálise) para que este trate de um ex-amigo dela, Nietzsche, sem o conhecimento deste. Para que isto ocorra, o doutor Breuer aplica uma tática pouco convencional: pede para que Nietzsche seja o médico de sua alma atormentada, pois tem constantes devaneios sexuais com a ex-paciente Anne O. Em troca, Breuer tratará das dores de cabeça convulsivas de Nietzsche, e tentará descobrir se ele realmente almeja se suicidar. O doutor Breuer ainda conta com o auxílio de um de seus alunos preferidos, o jovem promissor Sigmund Freud. Detalhe: Todos estas pessoas existiram realmente na mesma época. Podería-mos concluir que a história retrata o duelo entre a filosofia e a psicologia, cada uma apontando os erros e acertos da outra? Não. Vemos mais uma troca de métodos e experiências entre as duas ciências, representadas por dois de seus mais importantes expoentes. Até mesmo nos momentos de debate acalorado entre os dois personagens principais, fica a impressão que sempre um acaba, de certa forma, concordando com o outro no final. Ao invés dos diálogos parecerem com uma partida de xadrez (ilustração que o livro tenta passar), parece mais uma conversa de comadres. Em alguns sites da internet, é interessante notar a discussão entre os leitores filósofos e os psicólogos (e todos os outros que se dizem entendidos no assunto) sobre particularidades acrescentadas pelo autor aos personagens. Alguns não concordam que Nietzsche seja retratado assim, outros que Breuer, ou até Freud, sejam retratados assado, e ficam em uma discussão interminavelmente inútil. Estes leitores não aprenderam ainda o significado real do gênero ficção-histórica. Não se pode levar ao pé da letra tudo o que aparece na trama, tanto é que o autor faz uma nota ao final do livro dizendo o que é fato e o que é imaginação. Mas nem precisava tanto. Bastava um pouco de bom senso e de inteligência ao leitor. E se alguém achar que conhece o personagem melhor do que o autor retratou, escreva um livro sobre ele. Garanto que é a melhor forma de acabar com a frustração. O livro deve ser encarado como diversão e como uma provável base (ainda que superficial) para se conhecer as principais teorias defendidas por Nietzsche, e este pensamento deve permear sempre quando se tratar de ficção-histórica. A famosa moral da história que o livro mostra é a que o homem simplesmente não funciona muito bem sozinho. Ele precisa de amigos, da família, do trabalho. Precisa se abrir com outrem, confessar os seus pecados, precisa ajudar e ser ajudado. Somente assim poderá a limpar a sua consciência (ou subconsciência, como desejar) dos lixos que tanto perturbam a paz mental do homem.
Resumos Relacionados
- Quando Nietzsche Chorou
- Quando Nietzsche Chorou
- Quando Nietzsche Chorou
- Quando Nietzsche Chorou
- Quando Nietzsche Chorou
|
|