Ainda Bocage E Camões Ii
(B e C)
Satirizou os índios ( o que me desagrada muito), lamentou em magníficos versos a decadência de Goa e das possessões portuguesas. Em Goa encontrou muita estima no desembargador Sebastião José Ferreira Barroco, também poeta, e um dos maiores amigos de Filinto Elísio. Em 1789 era promovido a tenente, de infantaria da 5.ª companhia da guarnição da praça de Damão, onde chegou nesse ano, mas logo dois dias depois dali desapareceu em companhia doutro oficial da mesma praça, indo ter a Macau, onde sofreu em resultado desta aventura. 0 que obrigaria Bocage a desaparecer tão precipitadamente da praça de Damão, e a apresentar-se na colónia de Macau? Imitar Camões, o prazer de visitar todos os lugares que ele percorrera? Seria apenas pelo seu espírito volúvel? Ninguém o poderá dizer, talvez nem ele o soubesse. Nestas paragens foi ainda mais infeliz do que na Índia, e só teve dois homens que lhe valeram: Lázaro da Silva Ferreira, governador de Macau, que o não pronunciou por haver desertado de Damão, e o negociante Joaquim Pereira de Almeida, que recebendo-o e dando-lhe agasalho o apresentou na sociedade macaense. Mas absolvida a culpa, o poeta não descansava com saudades da pátria, dos amigos e dos amores. Partiu para Lisboa onde chegava o eco da revolução francesa (1789). A liberdade era o hino que se cantava às escondidas por toda a parte, porque a polícia estava cada vez mais intransigente. 0 poeta cantou logo contra o despotismo, chamando-lhe sanhudo, inexoravel, monstro que em pranto, em sangue a furia ceva, mas que não tyranisa do livre coração a independencia, e compôs muitos sonetos em honra da liberdade. Eram estes os sentimentos políticos de Bocage e de todos os sócios da Nova Arcádia, salvas poucas excepções. Nem escapava ao influxo o padre José Agostinho de Macedo, ex-frade graciano, amigo do vate no seu regresso ao país, mais tarde seu declarado inimigo, e por fim reconciliado com ele no período curto da fatal doença que o prostrou. A Nova Arcádia, chamava-se uma sociedade de poetas daquela época, para onde Bocage entrara em 1791, tomando o nome pastoril de Elmano Sadino, e contra a qual se indispôs em 1793. Em todo o tempo que durou esta guerra com os seus colegas, levantada por vaidades de poetas e de literatos, jogaram-se as mais acerbas sátiras e vibraram-se epigramas os mais frisantes. 0 forte despotismo da época não podia deixar de perseguir a quem possuía sentimentos liberais, e Bocage era pouco acautelado. Em 1797 foi denunciado à intendência da polícia, por uns papeis ímpios, sediciosos e satíricos, que apareciam clandestinamente com o título de Verdades duras, e continham entre outras coisas a epístola Pavorosa illusão da eternidade. Bocage tentou fugir, mas foi preso. (continua)
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