Bocage E Camões Épocas Diferentes, Diferentes Destinos
(B e C)
É um dos nossos melhores poetas, e depois de Camões o mais popular e celebrado de todos. Nasceu em Setúbal a 15 de Setembro de 1765, faleceu em Lisboa a 21 de Dezembro de 1805. Filho de um português e de mãe de ascendência francesa (erada célebre poetisa francesa, madame Marie Anne Le Page du Bocage). Em 1779 assentou praça de cadete no regimento n.º 7 de infantaria de Setúbal. Veio estudar para Lisboa aos 14 anos de idade. 0 desprezo constante pelos actos do ex-ministro de D. José, levara os conselheiros da rainha D. Maria I a criar em Lisboa, em 5 de Agosto de 1779, uma instituição, a que chamaram Academia Real de Marinha, equiparada à Universidade. Foi neste Instituto que Bocage recebeu a sua educação científica, mais tarde foi aperfeiçoá-la na Academia dos Guardas Marinhas. As paixões levianas eram tudo para Bocage. As damas constituíam o seu único pensamento. Confiando nos seus dotes de claro entendimento, estava tão certo de agradar às belas, que notava com espanto a resistência dalguma, que porventura Se esquivava aos seus galanteios. Tomava como correspondência amorosa o aplauso unânime que obtinha nas salas ao recitar os seus versos. E assim viveu sempre em toda esta primeira fase das suas aventuras, a amar e a padecer. 0 nome de Gertruria tornava-se o seu pensar constante (anagrama imperfeito de Gertrudes) foi este nome que por muito tempo o inspirou. Era asfixiante o ambiente que então se respirava na capital. Por um lado os medos da propagação das doutrinas filosóficas traziam empenhados o tribunal da Inquisição, por outro lado não estava ainda extinta a luta dos ódios contra o marquês de Pombal, a quem as famílias dos nobres, por ele castigados, acusavam violentamente, imputando-lhe acções desonrosas, delitos infamantes, e tentando reabilitar-se como inocentes no atentado contra el-rei D. José. Época de incertezas, de dúvidas, de receios e de perseguições. Como poderia florescer no mais elevado grau a literatura portuguesa, embora tivesse por cultor um génio como Barbosa du Bocage? 0 gosto de então eram as canções brazileiras, cantadas à guitarra ou à viola, nas reuniões de família ou nas orgias dos botequins. Todos os poetas davam à porfia letras para estas árias, e Bocage não foi dos menos pródigos. O poeta, que sempre sonhava parecer-se o seu destino com o de Camões, que só invejava a imortal glória do grande épico, comparava a sua mocidade livre com a que tivera, e pensava porventura que também este na corte compunha e recitava versos, requestava donzelas, e cantava a Natércia. Camões tinha ido ao Oriente, Bocage foi também. Em 1786, partia o nosso poeta a visitar as terras que inspiraram o imortal cantor dos Lusíadas. Ia procurar novos horizontes para melhor desenvolver as suas formosíssimas concepções poéticas. A nau de viagem arribou ao Rio de Janeiro, por causa de tempestade que se levantou. Bocage ali se demorou, sendo muito bem recebido pelo vice-rei do Brasil, Luís de Vasconcelos e Sousa, e pela melhor sociedade fluminense. Em 1786 chegou finalmente a Goa. O engenho e a arte de Bocage poderia elevar-se imenso, se houvesse tido outra educação literária e científica, e soubesse subtrair-se à influência do meio social em vez de buscar nele efémera popularidade. Camões era não só um génio, mas o primeiro sábio da sua época. Bocage aprendera bem as línguas, o latim, o francês e o italiano, mas trocara tudo isto pelo culto exclusivo das musas, os conhecimentos de ciências naturais, que alcançara nas academias de marinha. Foi por tudo isto, certamente,que ao chegar a Goa nem se impressionou com a luxuriante vegetação oriental, nem com as religiões, raças, línguas e costumes daqueles povos, e continuou cantor da arcádia preso às regras horacianas, e não conseguiu produzir um poema.( continua)
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