Garota, Interrompida - Susanna Kaysen
(CristineM)
Girl, Interrupted (Garota, Interrompida)Imaginem uma garota de 18 anos. Rica, boa família, pais inteligentes, bem-sucedidos, muito ocupados. Ela não se interessa pelos estudos, com exceção de literatura e biologia (matéria em que leva bomba duas vezes). Ao se concentrar em alguma tarefa, como os deveres da escola, freqüentemente sua atenção é desviada e começa a esfregar os pulsos na borda da cadeira, mas pára antes de se ferir seriamente. Tem vários namorados, e se encantou com um professor de inglês. Fica muito tempo pensando e imaginando a própria morte e, em uma ocasião, enfileirou 50 aspirinas sobre a mesa, engoliu uma por uma e foi até o supermercado (para ser encontrada?). Desmaiou em frente ao açougue e foi levada ao hospital, onde esvaziaram seu estômago. Diante de uma garota assim, pensamos em terapia (para ela e para os pais, terapia familiar, talvez?), ou em alguma atividade que realmente desperte seu interesse, quem sabe algum trabalho voluntário, ou podemos até achar que a tal garota faz parte de alguma turminha "emo". Não cremos que seja caso para um hospital psiquiátrico. Mas em 1967, foi.Neste livro de memórias, Susanna Kaysen fala dos quase dois anos que passou internada em um hospital psiquiátrico, de 1967 a 1968. Depois de uma consulta a um psiquiatra que nunca havia visto antes, este (após comentar que ela tinha uma espinha) sugeriu que ela se internasse em um hospital, para "um descanso". Ela foi posta em um taxi até o Hospital McLean, conhecido por ter "hospedado" famosos e criativos como Sylvia Plath, James Taylor, Ray Charles e Robert Lowell, e não tão famosos cujas famílias pudessem pagar pela estadia. Como Susanna observa, "Nosso hospital era famoso e havia abrigado muitos grandes poetas e cantores. O hospital se especializou em poetas e cantores, ou será que os poetas e cantores se especializaram na loucura?".O livro não segue uma estrutura narrativa linear; são capítulos isolados, contando incidentes vividos ou testemunhados por Susannna, que nos mostram o cotidiano das internas, o relacionamento com o pessoal (enfermeiras e médicos) e, no final do livro, um balanço que a autora faz de seu diagnóstico e do que é a doença mental, de como os psicólogos e psiquiatras têm uma abordagem diferente do paciente (segundo ela, os primeiros tratam a mente, e os últimos, o cérebro, interessando-se somente pelas reações químicas que acontecem lá). Por fim, ela conta que conseguiu levar uma vida normal (seja lá o que isto signifique); lendo este livro nos perguntamos o que é normal, e se todos nós não temos problemas e comportamentos que poderiam ser classificados como problemas mentais, e quão fina é a linha que separa a pessoa sã daquela diagnosticada como doente mental. Susanna diz que, na adolescência, só se interessava por literatura e namorados; perguntaram-lhe se ela pretendia viver só disso. No final do livro ela comenta que foi exatamente o que fez, pois tornou-se escritora e continua tendo muitos namorados. Não se encaixar em um modelo predefinido pela sociedade pode ser considerado doença mental? Ela foi mais tarde diagnosticada como tendo Transtorno de Personalidade Limítrofe (borderline personality disorder). Em sua defesa, ela argumenta que os sintomas da doença são comuns na adolescência (critérios diagnósticos 2, 3, 6 e 7 - ver lista abaixo), e que a doença "é mais freqüentemente diagnosticada em mulheres", o que interpreta como um preconceito sexista. Promiscuidade, segundo ela, é um conceito diferente, em termos (e números) absolutos e relativos, para homens e para mulheres; compulsão alimentar e de compras seriam sintomas mais tipicamente femininos, enquanto que direção imprudente seria um comportamento masculino (não necessariamente considerado mau). Como a doença nem era conhecida na época, ela sofreu com a falta de um diagnóstico preciso, sem saber na verdade de que sofria. Dois anos após a internação, ela conseguiu ter alta do hospital, e conseguiu levar uma vida normal. Casou, separou, tentou alguns empregos e decidiu ser escritora. Nada diferente da vida de muitas pessoas...Critérios DiagnósticosUm padrão invasivo de instabilidade dos relacionamentos interpessoais, auto-imagem e afetos e acentuada impulsividade, que começa no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, como indicado por cinco (ou mais) dos seguintes critérios:Critérios diagnósticos para F60.31 - 301.83 Transtorno da Personalidade Borderline:1 -esforços frenéticos para evitar um abandono real ou imaginado. Nota: Não incluir comportamento suicida ou automutilante, coberto no Critério 5<617> 2 - um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos, caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização 3 - perturbação da identidade: instabilidade acentuada e resistente da auto-imagem ou do sentimento de self 4 -impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente prejudiciais à própria pessoa (por ex., gastos financeiros, sexo, abuso de substâncias, direção imprudente, comer compulsivamente). 5 - recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante 6 - instabilidade afetiva devido a uma acentuada reatividade do humor (por ex., episódios de intensa disforia, irritabilidade ou ansiedade geralmente durando algumas horas e apenas raramente mais de alguns dias) 7 - sentimentos crônicos de vazio 8 - raiva inadequada e intensa ou dificuldade em controlar a raiva (por ex., demonstrações freqüentes de irritação, raiva constante, lutas corporais recorrentes) 9 - ideação paranóide transitória e relacionada ao estresse ou severos sintomas dissociativos(fonte: Wikipédia) http://pt.wikipedia.org/wiki/Transtorno_de_personalidade_lim%C3%ADtrofe (texto originalmente publicado em http://ratodebiblioteca.clickblog.com.br)
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