A Colméia
(Camilo José Cela)
Cela toma um microscópio e observa a vida e as ações de vários personagens do lúmpen madrilenho da pós-guerra civil. O título do romance já nos oferece uma impressão gráfica: pessoas e coisas vivem em compartimentos não estanques, mas suficientemente individualizados.
Essas pessoas se relacionam umas com as outras através da parede mediadora que divide as celas de cada uma. na paisagem esgotada de uma cidade pobre e escura se entrecruzam as histórias da dona do bar, prostitutas, trabalhadores braçais e todas as figuras que configuram o imaginário da época: arquétipos mil vezes repetidos em peças de teatro e romances menores.
O grande acerto de Cela não está na trama (pobreza, desespero, sutilezas que se aguçam), que pode inclusive já ser conhecida, mas sim no emprego do tempo fragmentado, na ruptura do espaço e no uso da anedota para dar sentido e unidade ao romance, que, de outro modo, não se sustentaria.
Por outro lado, o retrato da época é atilado e preciso, embora partidário e parcial. Sem dúvida, uma obra que marcou ponto e faz parte da história do romance espanhol.
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