O Mundo Como Está ? Visão De Babuc Escrita Por Ele Próprio.
(Voltaire)
Ao ler um clássico, alguns questionamentos nos tomam de assalto: Como uma obra pode passar por séculos e estar ainda atual? Não teria a humanidade ainda superado o momento em que a obra foi construída? Trata de questões inerentes a raça humana de forma que sempre estarão presentes, e o autor teve tal sensibilidade de compreender um desses momentos e eterniza-lo num livro? Ao findar a leitura, fui vendo que se trata de um tema tão pertinente à humanidade, por esta ainda não o ter superado, e o grande escritor Voltaire teve uma astúcia tal nesta obra, que ao retratar o que acontecia em sua época, espelha o que existe no emaranhado de relações humanas ainda em nossos dias. As duas ultimas questões se complementam para responder a primeira, e reiteram a beleza e o prazer de se ler um clássico. E não apenas pelo tema, mas também pela forma como o escritor foi trabalhando um tema denso, utilizando a ficção de forma ímpar, mexendo com o lúdico de maneira a tornar a obra saborosa, sem um grama de enfado; conseguindo atingir seu objetivo, sem calhamaços de papel. Objetivo, claro, sagaz. Nesta obra encontramos o poderoso Ituriel, um dos gênios que presidiam o império do mundo, descontente com o que acontecia em Persépolis, e estando prestes a destruir a cidade. Entretanto, desejando ser justo na sua decisão, encaminhou Babuc um anjo neutro relativo a situação, para uma empreitada bastante dura ? seria o embaixador que iria viver entre os cidadãos de Persépolis, conhece-la intimamente, e dar seu veredicto. Conforme suas observações, Ituriel destruiria ou não a cidade. Com o peso desta incumbência, vem ele passar alguns dias nas mais variadas situações que a cidade pôde oferecer. da guerra aos banquetes, dos magistrados aos pseudo-intelectuais, Babuc viu tudo quanto podia ver, do sofrimento extremo a mais extasiante alegria, das mentiras e injustiças, a sensibilidade mais nobre. Na sua qualidade de anjo, com toda a divindade da sua categoria, pode ver o gênero humano de perto. Suas fraquezas, suas traições, toda sorte de vilanias. Mas também foi agraciado com a generosidade, a sabedoria, e tudo o que de nobre e divino o homem também tem em sua constituição mais visceral. Sua opinião oscilou do início ao fim da obra, conforme o que encontrava em seu caminho. Coisas cruéis o faziam ver que era necessário a extinção de uma raça tão torpe. O amor levado a mais sublime atitude, o fazia ver que havia esperança. E assim foi, em cada lugar onde se colocava, conseguia ver motivos para destruir, mas também para manter a cidade. E teve que colocar na sua balança os dados para tomar sua decisão, que é relatada a Ituriel no fim do livro. O que o leitor deve esperar da leitura deste livro, não é apenas a palavra final do anjo, que deve ir ate a obra para encontra-la, mas olhar de perto o caminho que ele fez. Como foram os momentos onde teve julgamentos apressados, e os outros onde entrou fundo na situação que se lhe apresentava, e munido das informações efetivas, ia edificando e até mesmo modificando sua opinião. É esse olhar tão perspicaz num momento tão sujeito a corrupções da historia, como inclusive o é este que vivemos, esse movimento de compreender o jogo das funções envolvidas, que o leitor deve analisar. Essa inversão de atitude diante dos fatos, de sair da banalização barata e fácil, para uma compreensão objetiva e profunda. É isso o que um clássico faz. Ele foi feito numa época, tratando de questões ali existentes, mas que ao ser lido séculos depois, ainda tem o que dizer e a quem alcançar. Um clássico faz estragos. E o estrago dessa grande obra, vem dizer que o olhar rápido nos diz algumas coisas nas quais é mais fácil incorrer em erros, mas que o olhar demorado, nos mostra que o ser humano pode mais, e nos devolve a esperança.
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