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Laïs De Maria De França
(Marie de France)

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Contos de fadas para gente grande - assim são estes laïs de Maria de França, cujo sabor é ao mesmo tempo ingênuo e sensual. Mas, o que são laïs? E quem foi Maria de França?

Os laïs eram narrativas em versos, escritas para serem cantadas ao som de um instrumento musical, geralmente a harpa.Maria de França viveu no Século XII que, dentro de um interlúdio do que foi a Idade Média para o viver feminino, poderia ser chamado O Século de Ouro das Mulheres. Foi uma época em que se destacaram grandes damas da nobreza, mulheres inteligentes, cultas e refinadas, como Elienor da Aquitânia e suas filhas, e Adelaide e Gerbirg, Eusébia, Vera e tantas outras. Mulheres que pela primeira vez fizeram diferença num universo até então predominantemente masculino. Elas marcaram presença na corte, educando as maneiras dos homens, inspirando-lhes a polidez no comportamento e no convívio entre seus iguais.

No tocante às relações homem/mulher, deu-se uma verdadeira reinvenção do amor, modelado pela generosidade e gentileza.Nascido, portanto, na corte - de Provença, dos reinos da Península Ibérica - foi esse novo tipo de relacionamento amoroso denominado amor cortês. Através dos trovadores e menestréis, difundiu-se pelas classes populares, como atestam as várias facetas e nuances das cantigas de amor e de amigo dos romanceiros galaico-portugueses.

Em que consistia o amor cortês? Um sentimento de adoração, a princípio pensamos - uma admiração platônica, espiritual e distanciada. O que não é exatamente verdade, pelo menos não na maioria dos casos. Nascido da atração física, o amor cortês busca a realização na posse, embora muitas vezes os prazeres da carne parecem ser mais sonhados que vividos, segundo Michel Pastoreau. Um amor que se realiza quase sempre fora do casamento, pois o casamento implica em obrigações e rotina, enquanto o amor cortês é feito de constante conquista e desejo. Por isso mesmo foram as cantigas fortemente reprimidas pela Igreja, na implacável defesa do sacramento do matrimônio - e os trovadores foram obrigados a trocar a veneração à mulher amada pelo culto à Virgem Maria.

Como no platonismo, a beleza física era símbolo da beleza espiritual, mas a sensualidade e o erotismo estão sempre presentes, conforme contam os lais: amiudamente queria a dama ver seu amigo e deleitar-se com ele. Ou: a jovem outorgou-lhe seu amor e seu corpo. E ainda: dentre as finas iguarias que ofereciam ao cavaleiro, a que mais lhe agradava era beijar sua amiga e apertá-la em seus braços. Assim nos conta Maria.

E  que mais ela nos conta? Primeiro, conta que lhe contaram. E o próprio amor surge de um contar que se filtra no imaginário e desperta o sentimento amoroso. Um rei se apaixona pela esposa do senescal porque lhe contaram que ela era a mais bela dentre as mulheres do reino. Ou: A jovem ouviu falar de Milun, muito se enamorou dele. Ou ainda: A filha do rei ouviu como falavam seu nome e contavam sobre suas qualidades.

Os encontros se dão muitas vezes pelo simples desejo de estar juntos. Num ato de pura magia, o maravilhoso se instaura na vida dos personagens. O cavaleiro se metamorfoseia em ave para chegar ao alto da torre onde vive sua dama. Há muito tempo a desejava, mas não poderia encontrá-la, antes que fosse por ela requerido. Basta, portanto, apenas pensar, desejar. Eu virei quando quiserdes - diz a dama ao seu amado. E todas as vezes que ele deseja, ela vem.

As mulheres são nobres, princesas, rainhas - e se vestem de seda, cetim, longas túnicas orladas de arminho, ataviadas com as mais ricas e preciosas jóias. Sua beleza física é sempre extraordinária, um reflexo da beleza de sua alma. Esquecendo-se do que foi dito nos outros contos, em cada conto a dama é a mais bela do reino, possui uma beleza incomparável, como não haverá outra em seu século. Não ficam por menos as características físicas do cavaleiro: será sempre o mais forte e altivo, e mais belo nunca se viu no mundo. E portador de inigualáveis qualidades morais: bondoso, generoso, esforçado, valente, desprendido. Ao desejo desses maravilhosos amantes muitas vezes se interpõem obstáculos: um marido ou pai ciumento, diferenças sociais, juramentos de fidelidade a outra pessoa.

As histórias dos laïs, segundo ela mesmo o diz, recolheu-as a autora do folclore popular, certamente ouvindo-as de jograis e trovadores que eram recebidos com muito contentamento nos castelos, entretendo com suas cantigas as noites dos reis e dos nobres da corte. Recontou-as Maria de maneira própria, imprimindo-lhes seu estilo de mulher aristocrata, inteligente, culta e sensível, leitora dos clássicos e certamente conhecedora de vários idiomas.Da identidade de Maria pouco se sabe, apenas o que ela revela no prefácio de suas Fábulas: Meu nome é Maria, e sou de França.

Como foi dito anteriormente, os laïs eram escritos em verso. O tradutor optou por contá-los em prosa, preservando na medida do possível, o sabor original do texto.
Conseguiu: o sabor é original - e refinadamente delicado. Nós, leitores, agradecemos.

Tradução de Antônio L. Furtado, apresentação de Marina Colasanti. Editora Vozes, Petrópolis, Brasil. 2002.



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