Francis X Francis
(Lúcio Jr)
Por ocasião dos dez anos da mortedePaulo Francis (1930-1997) está ocorrendo o lançamento de um último romance, deixado incompleto: Jogando Cantos Felizes. Nele, Francis aproveitou sua experiência na França (ele esteve na França em maio de 1968 e entrevistou várias personalidades) e narrou a história do filho de um industrial brasileiro que descobriu seu potencial revolucionário no maio francês. Francis queria publicar o texto em 1998, mas o projeto foi adiado. É muito curioso que Francis tenha escrito sobre a descoberta de um potencial revolucionário num jovem, uma vez que a experiência mais marcante na obra de Francis parece ser o golpe de 64 e a ácida descoberta do pouco potencial revolucionário, não só da juventude, mas de sua geração e do País. A viúva de Paulo Francis, Sônia Nolasco, está à frente, junto com Wagner Carelli, de uma editora (originalmente, editora W11) que leva o seu nome: editora Francis. Já reeditou as Filhas do Segundo Sexo, Cabeça de Negro, Cabeça de Papel e agora relançou seu último romance, com final reconstruído graças a manuscritos e aos amigos. O romance Cabeça de Negro (1979), e que segundo Sônia Nolasco, reflete ainda o Brasil atual, foi muito marcado pelo darwinismo social de seu personagem central Hugo Mann. Muito além de retratar simplesmente um darwinista social, Francis construiu toda uma narrativa marcada por essa influência ideológica, tendência essa que acentuou-se na obra de Francis a partir de 1983, quando publicou seu primeiro livro de memórias, agora também relançado, O Afeto que se Encerra. A idéia de que os mais fracos devem perecer, e que viva o mais forte foi uma influência que, levada às últimas conseqüências, provocou uma guinada do escritor e jornalista para o conservadorismo, o azedume das provocações e polêmicas, muitas vezes mergulhando num niilismo e realismo pessimista. O afeto pelos fracos também facilmente se encerrou, ainda que o autor tenha morrido um pouco com o esfarrapar dessa bandeira. No mesmo pacote recente foi também reeditado o segundo livro de memórias de Francis, Trinta Anos Esta Noite, editado inicialmente em 1994. Neste texto, Francis terminou sua metamorfose político-ideológica e, a partir de uma posição de centro-direita, destruiu o pensamento do Paulo Francis dos anos 60, que dizia, num artigo intitulado A Invasão da América Latina, na Revista Civilização Brasileira de julho de1965, previsões como: ?Teremos então a longa noite do militarismo ou a revolução popular. Ambas são previsíveis e a última inevitável?. Outra característica do estilo de Francis foi o enorme ecletismo de referências: em Cabeça de Negro, passa-se com ?asas nos pés? da observação demolidora e difamatória sobre a sexualidade do intelectual Álvaro (claramente inspirado no médico e filósofo nacionalista de esquerda do ISEB, Álvaro Vieira Pinto) para comentários
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