Fahrenheit 451
(Ray Bradbury)
Imagine um mundo onde livros são queimados. Não, não estamos falando da Idade Média onde a Igreja Católica queimava livros que considerava perigosos, muitas vezes junto com os seus respectivos autores. Estamos falando de um futuro não especificado no qual livros são proibidos para evitar a disseminação do conhecimento. Nesse mundo, as casas possuem cômodos cujas paredes são imensas telas de tevê as quais exibem programas com informações triviais e ?famílias? com as quais os espectadores podem interagir, como se fossem uma família real. As casas são construídas com materiais não-inflamáveis, o que faz com que os bombeiros percam o seu propósito inicial e passem a ser utilizados como mantenedores da ordem, queimando os livros que algumas pessoas teimosamente resolveram preservar.É aqui que vamos encontrar Guy Montag, um bombeiro que leva uma vida ?normal? ao lado de sua esposa, Mildred, viciada em pílulas que a mantém em sua pacífica e perfeita realidade, e cujo único sonho é comprar uma tela de tevê para ocupar a quarta parede de um cômodo que já possui três imensas telas nas quais ela embala os seus dias interagindo com sua ?família?. Contudo, a vida pacata de Montag começa a degringolar a partir do momento em que ele e sua equipe de bombeiros vão investigar uma denúncia sobre uma senhora idosa que mantém livros em sua casa. Ao invadirem a casa e encontrarem os livros, seguem o procedimento padrão: retiram o infrator, o entregam à polícia do regime e queimam a casa com tudo o que ela contém. Essa senhora, de sobrenome Blake, no entanto, recusa-se a sair da casa preferindo ser queimada junto com os livros que cultivou a vida toda. Essa obstinação faz com que Montag se questione sobre o porquê de uma pessoa ter tanto interesse naquelas páginas impressas, desafiando a ordem apenas pelo prazer de ler. Além disso, Montag conhece uma jovem vizinha chamada Clarisse, uma adolescente questionadora, cheia de porquês e que se maravilhava com coisas simples como estar ao ar livre e conversar com amigos. Quando Clarisse some misteriosamente Montag passa a questionar o sistema vigente e começa a levar livros para casa. Ao ser denunciado, foge e passa a descobrir um mundo onde pessoas mantêm um pequeno foco de resistência na tentativa de preservar os livros e , consequentemente, o conhecimento. Comparado a ?Admirável mundo novo?, de Aldous Huxley e a ?1984?, de George Orwell, ambos escritos sob regimes totalitários, ?Fahrenheit 451? destaca-se pela visão de Bradbury da sociedade de consumo e do papel da indústria do entretenimento, principalmente da imagem, nesse processo. Podemos perceber traços da sociedade narrada no livro em nossa própria sociedade. A televisão nos traz programas vazios, cujo objetivo parece ser o de nos tirar a capacidade de pensar ao invés de desenvolvê-la; programas interativos onde as pessoas sentem-se como participantes ativos. Vemos pessoas que passam horas vendo tevê ou conectadas à internet. Recebemos mais informação do que somos capazes de processar. Apesar da tão propalada globalização, onde teoricamente haveria um estreitamento nas relações, as pessoas estão mais distantes, menos propensas ao diálogo. Famílias inteiras sentam-se na sala, à noite, e ficam caladas enquanto assistem à novela. A tevê e, mais recentemente, a internet estão tirando das pessoas a vontade e o prazer de ler. São elas os Montags e os Beattys queimando os nossos livros com um fogo que não conseguimos ver. Bradbury nos faz pensar que, para que as pessoas sejam controladas não é preciso colocar exércitos nas ruas, não é preciso mantê-las sob a mira de um fuzil. Pode-se controlá-las e levá-las a fazer o que o sistema quer que elas façam, enquanto lhes dão a impressão de que estão agindo por vontade própria. Em um livro publicado originalmente em 1953, Bradbury anteviu situações que, mesmo hoje em dia, a maioria das pessoas não consegue ver. Talvez já esteja na hora de, a exemplo de Montag, começarmos a nos questionar; assim como Clarisse, começarmos a apreciar as coisas simples; assim como a sra Blake e o professor Faber, percebermos a importância dos livros na nossa formação. Em tempo: Fahrenheit 451 é a temperatura na qual o papel do livro pega fogo e queima!
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