Resumo de O Perfume ? História De Um Assassino

Considero um livro bom quando mesmo anos após tê-lo lido, ainda posso lembrar as imagens que ele suscitou, os pensamentos que ele foi subsidiando, quando fica algo dele em nós, e o levamos historia afora. Muitas vezes não se trata de uma lição, uma forma peculiar de lidar com a vida, ou um livro técnico, mas apenas um livro que embora não pretenda ensinar ou discutir nada, provoca uma inquietaçaozinha, um pensamento que fica latente. Uma ficção quando bem talhada impregna a imaginação, e mesmo muito tempo depois, você tem na consciência os quadros que ao ler o livro foram sendo pintados na imaginação. O livro em questão, trata de um assunto peculiar, e o faz de uma forma envolvente e crua. ?O Perfume, historia de um assassino? trata de sentidos, especificamente o olfato, o cheiro, que é o que mais temos de irracional em nós. Tanto que com a elevação do grau de civilização, os cheiros do corpo, os odores mais naturais, são aqueles contra os quais mais se luta da hora que se levanta a hora que dorme. O universo do olfato tem um alcance instintivo, onde a racionalidade só entra depois, e tem a função de se arranjar com o que já aconteceu. O coração acelera, a respiração fica mais funda. O cheiro bate num lugar, onde não temos o domínio de bate pronto. E tanto assombra quanto sensibiliza. E foi disto, deste primitivo instinto, que nos aproxima tão severamente dos animais de escalão mais baixo na escala de evolução da criação, que Suskind tratou nesse livro. O nosso herói, Jean-Baptiste Grenouille, nasceu com um dom especial, teve seu olfato mais apurado que o de qualquer ser humano jamais conhecido. Mas com seu dom, veio sua maldição, e já ao nascer, não tinha ele nenhum cheiro. E na fedida França de 1700, os odores dos mais tenebrosos impregnavam a atmosfera, e era o cheiro, essa impressão digital, que distinguia quem era quem entre as pessoas, embora isso não fosse assim tão consciente por todos. Dessa forma, nosso herói ao não ter essa característica, não foi amado sua vida toda. Passou no anonimato toda uma existência, vivendo na penumbra, sem conhecer afeto algum. E era esta a sua luta. Ele conhecia as pessoas pelo cheiro, sabia quem eram e o que faziam, mas não conseguia se aproximar de ninguém, tecer laços ou constituir relações, desde o nascimento abandonado abjetamente, só conseguiu um vago lugar no mundo dos cheiros ? decifrava perfumes com maestria, os reproduzia, e também criava fragrâncias sublimes. Sabe-se que a França e conhecida ate em nossos dias pela qualidade dos seus perfumes, o que lhe deu pelo menos trabalho. Vivendo a margem de sentimentos, com toda sorte de infortúnios que se sucederam, Jean-Baptiste Grenouille que conhecia intimamente o mundo dos cheiros, sabia que dele não conseguia fazer parte, não se inseria de forma alguma entre os seres humanos. O assassino foi sendo forjado. Sem conhecer o certo e o errado, totalmente amoral, nosso herói as avessas só conhece os instintos, e não sabendo lidar com algumas coisas que lhe acontecem, mata. Não sentimos ódio ou raiva dele, mas vamos entendendo o mundo por seus olhos, por suas carências, e ele nos arrebata. Toda a dureza do seu universo, a crueldade dos cidadãos de respeito com o diferente, nos fornece dados sobre os quais, não é possível julgar tal qual a nossa discutível moral. A trajetória do nosso herói é envolvente em toda a sua realidade tão nua, que nos convida a visitar algumas páginas do seu submundo, e acabamos por ficar ate o desfecho, totalmente inusitado e surpreendente. Ali, nosso herói é brindado de forma peculiar e assustadora. Nosso adorável assassino tem um desfecho único, digno de grandes obras. Peço aos leitores que desejarem incursionar pelo ?Perfume?, que tenham a sensibilidade necessária para compreender o que escapa a lógica dura, e se deixem seduzir por este mundo instintivo, o mundo dos cheiros, encontrando nele, sentimentos que só podem ser ali entendidos.

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