Sobre O Gesto Criador
(LOIS CANHA)
Que se entende por criar? É tomar materiais diferentes, separados, mas Que existem, e, valendo-se de princípios experimentados e aplicando-lhes certas regras conhecidas, aproximá-los, agrupá-los, associá-los, ajustá-los, para fazer qualquer coisa deles? Não! Isso não é criar. Exemplos: podemos dizer que uma casa foi criada? Não, foi construída; podemos dizer que um móvel foi criado? Não, foi fabricado; podemos dizer que um livro foi criado? Não, foi composto e depois impresso. Assim, pegar materiais que já existem e fazer qualquer coisa com eles não é criar. Que é, pois, criar? Criar... com franqueza, encontro-me indeciso para poder explicar o inexplicável, definir o indefinível. Procurei, contudo, fazer-me compreender. Criar é tirar qualquer coisa do nada; é, com nada, fazer qualquer coisa do todo; é formar o existente do não-existente. Ora, eu imagino que é impossível encontrar-se uma única pessoa dotada de razão que conceba e admita que do nada se possa tirar e fazer qualquer coisa. Suponhamos um matemático. Procurai o calculador mais autorizado; colocai-o diante de uma lousa e pedi-lhe que escreva zero sobre zeros. Terminada a operação, solicitai-lhe que os multiplique da forma que entender, que os divida até se cansar, que faça enfim toda a sorte de operações matemáticas, e haveis de ver como ele não extrairá, desta acumulação de zeros, uma única unidade. Com nada, nada se pode fazer; de nada, nada se obtém. É por isso que o famoso aforismo de Lucrécio ex nihilo nihil é de uma certeza e de uma evidência manifesta. O gesto criador é um gesto impossível de admitir, é um absurdo. Criar é, pois, uma expressão místico-religiosa, que pode ter algum valor aos olhos das pessoas a que agrada crer naquilo que não compreendem e a quem a fé que se impõe tanto mais quanto menos o percebem. Mas devemos convir que a palavra criar é uma expressão vazia de sentido para todos os homens cultos e sensatos, para quem uma palavra só tem valor quando representa uma realidade ou uma possibilidade. Conseqüentemente, a hipótese de um ser verdadeiramente criador é uma hipótese que a razão repudia. O ser criador não existe, não pode existir.
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