Luegi, O Nascimento De Um Império
(Pepetela)
Angola, próximo do ano 2000.O bailado começa, com Lu no lago. O cenário, o grande lago, reflecte o céu, azul-escuro, estrelado, onde, orgulhosas, se destacam grandes rosas de porcelana.Lu é bailarina; desde criança o corpo se lhe requebra logo que sente a música no ar. Começou por iniciar um curso de biologia, para satisfazer a família; mas ver os bichinhos a contorcer-se sob o microscópio mais a fazia lembrar-se da dança e da música; ela vestia o seu som, nada a conseguia parar. Optou por não terminar o curso e começou a dar aulas para se sustentar. A sua paixão estava acima de tudo: noites, fins-de-semana e férias eram sempre passados com o grupo Kukina, a ensaiar, a dançar? mas o grupo tinha os dias contados. Não havia verba, dizia o governo; só um milagre os podia salvar.Lu já há tempo se vinha interessando pela história dos seus antepassados e havia um, em particular, que não a deixava descansar ? era a história de Lueji, lá longe, nas Lundas, e ela resolveu aprofundá-la. Leu, pesquisou, falou com historiadores, ouviu os mais velhos. Ficou apaixonada. Não conseguia tirar da cabeça a musicalidade dessa história, passada 400 anos atrás.Junto à capital da Lunda, Mussumba, o grande lago parece um espelho: sem levantar os olhos vê-se o azul do céu, os pássaros a esvoaçar próximo, as altas plantas das margens. Destas, sobressaem, imponentes, as rosas de porcelana, carnudas e cheirosas ? o ceptro real, o ceptro de Lueji, como viriam a chamar-se. Ao longe ouvem-se os batuques, estão a chamar para as danças; o vento, na sua passagem pelos canaviais, faz lembrar as flautas, a hora é mágica. Despreocupados, os três irmãos correm pela floresta, trepam às árvores para apanhar o mel das abelhas, nadam e pescam no seu lago, como lhe chamam. Lueji, a mais nova é querida por todos e os irmãos não a deixam só um instante, brincam sempre juntos, as brincadeiras de rapaz de que ela tanto gosta. De beleza sem igual, é também viva, inteligente e muito perspicaz. É ela sempre que leva a concórdia às disputas dos seus irmãos. Também junto de seu pai, o rei, ela procura justificar as faltas dos irmãos, principalmente as de Tchinguri, o mais velho, forte, orgulhoso e destemido, mas também muito dado a arranjar conflitos, pois, sabendo que será rei logo que seu pai morra, considera-se acima de todos os outros, nada perdoando e a todos impondo a sua vontade ? despotismo de jovem, pois tem um bom coração; o que ele mais quer, quando for rei, é abafar a voz e o poder dos velhos Tubungos, pois são eles, afinal, que detêm o verdadeiro poder, com o que Tchinguri não se conforma; o rei limita-se a usar o lukano ? a pulseira do poder ? e a resolver os problemas menores. Já Chinyama não preocupa ninguém, pois o que ele gosta é de armar laços para a caça, inventar histórias, comer e beber bem e, acima de tudo, brincar despreocupadamente com os irmãos, a quem adora.E os dias passavam, felizes, sempre havendo razões para se festejar, beber o hidromel, cantar e dançar ao som dos batuques ? ninguém resistia ao seu chamado. Mas sem que se esperasse, o pai, moribundo, decide passar o ceptro a Lueji, afastando Tchinguri do poder que ele tanto anseia? E ela, sem qualquer preparação, tem de governar as suas gentes?Lu e Lueji, ambas se afirmando na sociedade, cada uma a seu modo.Bravo, Pepetela! Qu?estória, na história?!!!
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