Os Meninos Da Guerra
(Wilson Amaral)
Súbito a vida de Hilel transitou dos sonhos de um dia que iniciou ensolarado para uma realidade cinzenta de insegurança e indagações quanto ao paradeiro do pai, levado a pontapés pelos nazistas no início do inverno de 1939, juntamente com os vizinhos judeus do lugarejo de Serniki. Foram dias vendo o choro da mãe, agravados pelos olhares estranhos do vizinhos ucranianos e pela falta de notícias do avô, que, navegando uma entrega de toras de madeira rio a baixo, não mais voltara. De embalada por histórias dos heróis nacionais, dos sábados sonolentos com à família e das brincadeiras infantis na paz polonesa, aos três anos e meio a vida do menino fez-se em soluços pela ausência da mãe pouco depois que o pai reapareceu fugido de um campo de concentração e o levou na garupa para o mato, onde esteve por todo o tempo da guerra. Seis anos de fugas, um escape na hora da morte de um campo de concentração, muitos tiros pelo corpo, amigos feitos e amigos mortos, combates com os partezans, dois meses escondido dos nazistas sob um assoalho num vão de quarenta centímetros, além da saudade, que mais de meio século depois ainda o arrebata nas lembranças da mãe, das irmãs e do irmãozinho de um ano e meio, exterminados porque a mãe relutou em deixar a casa, crendo que o marido exagerava quanto ao perigo, pelo que deu chance ao azar, então foi morta juntamente com sua mãe, as duas filhas e o bebê. Após o fim da guerra, difícil foi conviver com a desconhecida paz, tendo ainda as emoções alteradas pela pressão e perigos constantes, somados a ter que ir à escola com dez anos para aprender a ler e escrever. Difícil aceitar a urgente união do pai com uma sobrevivente, tendo que dividir os cuidados paternos com outro menino de dez anos, órfão da guerra. Complicado suportar a guerra e perseguição da madrasta ciumenta agora dentro de casa, tentando entender também o mundo infantil quando já possuía o conhecimento de uma vida dura que mesmo os adultos comuns jamais experimentaram. Mas, saindo da Europa para no Brasil em 1947, a vida lhe sorriu. Vivendo em Porto Alegre, no Estado do Rio Grande do Sul, muito prosperou, fez amigos, reencontrou parentes e constituiu família. Sentiu-se em sua Pátria e achou motivos de gratidão pela vida. Então buscou ajudar a todo que pudesse, amainando das pessoas os traumas e dificuldades. Com tudo isto, as dores do Holocausto foram sufocadas e a esperança de que tal morticínio nunca mais ocorra fez-se a bandeira da reconstrução das ruinas deixadas pela Guerra.
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