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Ficção -conto Ii
(Jorge Luis Borges)

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IIHerbert Ashe, inglês, engenheiro das ferrovias do Sul;acho que viúvo,sem filhos padecia de irrealidade. De tempos em tempo visitada a Inglaterra e era amigo do meu pai.Trocavam livros e jornais, jogavam xadrez.Uma vez falamos do sistema duodecimal de numeração(no qual doze se escreve 10),trabalho encomendado por Um norueguês, morador do Rio Grande do Sul,região nunca mencionada como visitada por ele.Em setembro de 1937, Hebert Ashe morreu da ruptura de um aneurisma;dias antes recebera um pacote do Brasil. Era um livro em oitavo maior que Ashe deixou no bar do hotel onde eu o encontrei. Ao folheá-lo senti Uma ligeira vertigem de assombro, o livro era redigido em inglês, com 101 páginas e na lombada estava escrito:A First Encyclopaedia of Tlön.Vol.XI. Hlaer to Jangr, sem indicação de data ou lugar.Impresso na primeira página em um papel de seda: Orbis Tertius. Fazia dois anos que descobrira um falso país, agora tinha nas mãos um planeta desconhecido. O tomo ao qual me refiro fazia alusões a tomos ulteriores e precedentes refutado por alguns estudiosos.De fato as investigações, até agora,têm sido estéries.Temos então um questão fundamental: quem são os inventores de Tlön? Conjetura-se que este brave new world seja obra de uma sociedade secreta de astrônomos,biólogos,engenheiros,metafísicos, poetas, químicos,algebristas, moralistas,pintores,geômetras...dirigidos por um gênio.A linguagem e derivação dela, em Tlön ? a religião, as letras, a metafísica ?pressupõem o idealismo. O mundo não é um concurso de objetos no espaço;mas sim uma série heterogênea de atos independentes, sucessivos,temporal e não espacial.Não há substantivos mas verbos impessoais qualificados por sufixos e prefixos monossilábicos de valor adverbial. Isto no hemisfério austral, já no boreal a célula primordial não é o verbo, mas o adjetivo. O substantivo se forma por acumulação de adjetivos e o fato de que ninguém acredite na realidade dos substantivos faz, paradoxalmente, que seu número seja interminável. No hemisfério boreal de Tlön aparecem muito mais do que todos os nomes das línguas indo-européias. A cultura clássica de Tlön compreende uma única disciplina:a psicologia, todas as outras estão subordinadas a ela. Os homens desse planeta concebem o universo como uma série de processos mentais, que não se desenvolvem no espaço,mas de modo sucessivo no tempo.Concluir que não existe ciência em Tlön, nem raciocínios, não é verdade;elas existem em grande número. Os metafíscos de Tlön não buscam a verdade, mas o assombro. Para eles a metafísica é um ramo da literatura fantástica.Das doutrinas de Tlön a que mereceu maior escândalo foi o materialismo. E assim vai a descrição da matemática, do capitalismo, da literatura em Tlön,tudo reproduzido como apareceu na Antología de la Literatura Fantástica de 1940. Mas desde data, ocorreram muitas coisas,em março de 1951 encontraram uma carta manuscrita de Gunnar Erfjord num livro de Hinton que pertencera a Hebert Ashe. O envelope continha um carimbo postal de Ouro Preto e a carta elucidou o mistério de Tlön. Um sociedade secreta em Lucerna ou Londres, no pricípio do século XVII surgiu para inventar um país. O programa inicial figuravam os ?estudos herméticos?,a filantropia e a cabala.Ao verem que uma geração não bastaria para articular um país, cada um dos mestres escolheu um discípulo para continuar a obra e assim foi. Após um hiato de dois séculos a fraternidade ressurgiu por volta de 1842 em Memphis(Tennessee),América quando um dos afiliados conversando com o milionário ascético Ezra Buckley ,escuta dele que o projeto deveria ser a invenção de um planeta e que o enorme empreendimento deveria ser mantido em sigilo. Em 1914 a sociedade remete aos seus colaboradores o volume final da Primeira Enciclopédia de Tlön. A edição é secreta em inglês tem quarenta volumes e serve de base para uma outra, mais minusciosa redigida em algumas das línguas de Tlön - revisão do mundo ilusório denominada Orbis Tertius, sendo Herbert Ashe um agente ou afiliado de Gunnar Erfjord.Outros fatos ocorreram que mostraram vislumbres Tlön ? a princesa de Faucigny Lucinge recebeu de Poitiers sua baixela de prata, entre os objetos que sairam do caixote, uma bússola onde as letras da esfera correspondiam a um dos alfabetos de Tlön. Certa vez no armazém de um brasileiro, encontraram um cone de metal reluzente do tamanho de um dado, mas o peso era intolerável. Cones pequenos e pesados, feitos de um metal que não é deste mundo,pertencem a divindade em certas religiões do Tlön.O que se encontra no Décimo Primeiro Tomo da Enciclpédia teve páginas eliminadas , talvez por não serem compatíveis com o mundo real. Mas não podemos deixar de submeter a Tlön a minuciosa evidência de um planeta ordenado. Não sabemos nada com certeza ? nem ao menos o que é falso.A influência é papável na numismática,farmacologia e arqueologia. Muito em breve será na matemática e biologia...Um grupo de solitários mudou a face do mundo. É bem possível que dentro de cem anos alguém encontrará os cem tomos da Segunda Enciclopédia de Tlön e aí desaparecerão do planeta o inglês,o francês e o simples espanhol. O mundo será Tlön.Enquanto isto continuo revisando a tradução do Urn Burial, de Browne.



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