The Glass Palace
(Amitav Ghosh)
Gostaria de dizer que se trata de um livro inteligente, mas é claro que isso é um absurdo. Um livro não pode ser, só por si, inteligente. Bastará afirmar que é o produto de um autor aparentemente inteligente. O romance, que considera a vida de três gerações entrecruzando pelo menos três famílias que cruzam tantos outros países, faz assentar na tradição da literatura subcontinental, que se ocupa do vasto período que abrange o final do império e a era pós-colonial, o rasto de importantes acontecimentos históricos como pano de fundo do que é essencialmente uma saga familiar, ou mais correctamente uma saga de famílias unidas pelo acaso e, como seria de esperar, pelo casamento. A interacção de crianças, primos, irmãos, amigos e rivais ao longo de 547 páginas é a tal ponto complexa, que este romance teria beneficiado da inclusão de uma árvore genealógica das principais personagens, visto os seus elos se expandirem em diferentes direcções para se virem a intersectar mais adiante. O facto de o leitor conseguir prever quando isso acontece não deve ser propriamente encarado como uma fraqueza da obra, mas mais como uma característica do género. A caracterização também é por vezes demasiado simplista, com personagens a comportar-se exactamente como prevemos: o oficial indiano ansioso por suplantar os Britânicos do seu regimento (por algum tempo); a matrona indiana muito directa, que tanto domina através de palavras como através do intelecto, etc. Onde o livro é bom é na tecitura subtil dos grandes acontecimentos da história do Sul da Ásia, infelizmente pouco conhecida dos leitores ocidentais. Recolhemos excelente material sobre Thebaw, o último rei de Burma, deposto após uma disputa relacionada com concessões de madeira imperiais que veio a dar origem a uma guerra naval, e as bases históricas revelam grande complexidade, como acontece no caso dos prisioneiros de guerra indianos que foram subornados às dezenas de milhar para combater a favor dos Japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. O facto de o leitor saber que a independência indiana virá um dia a acontecer aumenta ainda mais o conhecimento atribuído às personagens que vivem no vértice de uma grande mudança. O livro surge depois com algo comovente e informativo a dizer sobre a moderna Myanmar. A força do romance, além de ser uma boa história de fácil leitura (embora talvez um pouco longa), consiste em poder inspirar um leitor a procurar os factos subjacentes a ela, e descobrir algo sobre o período e os acontecimentos que tão habilmente evoca.
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