Tu És Isso: A Religião Como Metáfora (uma Resenha)
(Joseph Campbell)
Tu és Isso: A Religião como Metáfora (uma resenha) Todas as religiões se utilizam de metáforas que, desgraçadamente, são entendidas e ensinadas como se fossem fatos concretos ou históricos. Isto faz com que o fiel, ao chegar à idade adulta, renegue a Fé de seus ancestrais por estar em flagrante e gritante contradição com o senso comum. Isto não é operacional. Nas palavras de Joseph Campbell: (...) ?Metade da população mundial acha que as metáforas das suas tradições religiosas são fatos. A outra metade afirma que não são fatos de forma alguma. O resultado é que temos indivíduos que se consideram fiéis porque aceitam as metáforas como fatos, e outros que se julgam ateus porque acham que as metáforas religiosas são mentiras.? Neste caso, as coisas não são tão preto-no-branco assim, mas seguramente Leis Naturais como as da gravitação universal, jamais foram revogadas por mais que haja quem presuma serem factuais as metáforas religiosas. Tampouco as devemos jogar no lixo como ?mentiras?; encontrar núcleo vivo destas metáforas fortalece-nos muito mais a Fé do que o apego às suas exterioridades cristalizadas, cientificamente superadas ou, como as define Campbell, claramente infantis. Dentre curiosas metáforas religiosas, ressalto, na nossa Fé: Enoch subiu ao céu em seu corpo físico; a Terra foi inundada e todos os que sobreviveram estavam num único Navio-Arca construído em madeira por Noé; Moisés abriu o Mar Vermelho e as pessoas caminharam a seco em seu solo; Josué abriu o Rio Jordão e as pessoas caminharam a seco em seu solo; Josué parou o sol no céu; Josué liderou tropas que derrubaram as muralhas fortificadas de uma cidade tocando instrumentos de sopro; Maria subiu ao céu em seu corpo físico; um homem morto e sepultado há 3 dias é ressuscitado e seu corpo, em avançado estado de decomposição, se refaz. Gente a caminhar sobre as águas. Santos a pregar para peixes que prestam atenção. Estas são poderosas mensagens ao inconsciente que trazem muita informação sólida sobre as pessoas que as deixaram para nós e contém um núcleo vivo absolutamente sensacional e rico, que Campbell ilumina com seus trabalhos. A idéia de ?subir ao céu? não remete a alguma revogação temporária da Lei da Gravidade permitindo a alguém que, sem dispor de propulsão ou traje pressurizado, viajaria pelas estrelas. Acreditar nisso é infantil: insulta nossa inteligência e apequena nossa fé. Por outro lado, jogar essa mensagem fora como se ela a nada se referisse é ainda mais irracional. Pensemos na espiritualização de uma pessoa, alguém que se devota mais a outrem e à contemplação da Criação que a seu próprio corpo. Isto é algo efetivamente muito sublime! ?Subir aos céus? é um milagre. Não é fato físico ou, menos ainda, algum tipo de mágica. O milagre da transformação de nossos corações e mentes: é a isso que a metáfora religiosa sempre se refere. ?Morrer para o mundo e renascer nova criatura? é hoje uma metáfora bastante simples e muito usada. Por que é tão difícil vê-la retrospectivamente também, preferindo-se imaginar uma súbita revogação da Lei Natural em algum momento? Nossa Fé se fortalece e nos reconciliamos com a Tradição de nossos ancestrais ao entender a metáfora como tal e não como narração histórica literal ? coisa que jamais se propôs a ser...Eternidade e Transcendência Em todas as Tradições há uma referência a ?algo além?. Há, de fato, algo que transcende nossa percepção e é permanente. Algo que está além da percepção de nossos 5 sentidos, suporta este mundo e determina nossas vidas. Transcender é ir além. Campbell nos esclarece acerca destes conceitos em si. Há uma certa tendência a confundir ?para sempre? com ?eterno?. O ?para sempre? começa a partir de uma data especial e se prolonga para o Futuro. Eternidade se estende do Passado ao Futuro e o Presente é a ponte desta passagem. Eternidade, portanto, é aqui e agora. Este é o momento do milagre. Aproveite-o bem! Poderosa, a mensagem do mito que boa parte das tradições sepulta em variadas formas dedomesticação, conformismo e má compreensão. Fantasmagorias são absolutamente dispensáveis à mente religiosa que se despiu de preconceitos e concepções ingênuas da Criação. O que desejamos que permaneça após nossa curta passagem por este vale de lágrimas? Nossas Obras, nossa herança genética, aquilo que fazemos e com que marcamos nosso tempo. Leonardo Da Vinci desprezava olimpicamente os ?condutos de comida?, aquelas pessoas que, sem nada mais deixar no mundo que latrinas cheias anelavam por ?outro mundo? que lhes permitisse ser ou fazer coisas que jamais conseguiram neste. Tão confortador quanto inútil, este sentimento de fantasmagoria, remetente a uma consciência individual que persistiria após esta vida, paradoxalmente prende-nos a um materialismo e um individualismo absolutamente despropositado. Todas as religiões nascem a partir do que há de mais avançado na Ciência, na Fé e na Filosofia de seu tempo, ultrapassa-a e a recoloca num patamar mais elevado. O mundo está grávido de uma nova Religião, de uma nova Fé, de um Mito Novo. Enquanto a Fé estiver em contradição com a Ciência e esta for antagonista da Filosofia, estaremos ainda ?expulsos do paraíso? para utilizar a metáfora cristã. Estaremos, entre outras ?conquistas? da civilização moderna, diante de adultos jovens que, sem uma concepção clara de transcendência, vivem na imanência, sem balizamentos éticos dignos de respeito, jogando-nos nesta barbárie que vemos retratada nas páginas dos jornais.
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