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Sagarana (parte Iii)
(GUIMARÃES ROSA)

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(Parte III de IV) São Marcos ? José (Izé), o narrador, médico novo, récem-chegado no Calango-Frito, embora supersticioso, não acredita em feitiçaria e vive caçoando de um curandeiro e feiticeiro local - o João Mangolô, cuja cafua vive repleta de clientes de suas rezas, despachos, mandingas e simpatias. Muitos outros no Calango-Frito estavam envolvidos com todo o tipo de bruxarias; Nhá Tolentina, já muito rica e considerada por seus despachos; Dona Cesária, que atuava em calungas de cera, e até o menino Deolindinho obteve feitiço contra os coques do professor. Certo domingo, o narrador (Izé), a caminho de suas visitas ao mato das Três Águas, passa rente à cafua de João Mangolô e, como sempre, zomba do curandeiro e o insulta sem motivo. Em outra ocasião, a caminho-do-mato, onde se entretinha na contemplação da natureza, de seus mínimos movimentos, dos bichos, árvores e flores, encontrou-se com Aurísio Manquitola e se entreteve com os casos dos terríveis efeitos e poderes da oração mágica de São Marcos, que o narrador também conhecia. A longa prosa com Aurísio envolveu também outros circunstantes: o Gestal da Gaita, o Compadre Silvério, o Tião Tranjão, o Cypriano, o Felipe Turco, entre outros, cada qual narrando os seus casos de feitiçaria.José embrenha-se de novo no mato, absorto na contemplação da natureza, recordando o desafio poético travado com "Quem-Será", que se fazia em meio à natureza, pois os autores, sem se defrontarem, inscreviam os seus versos nos colmos (gomos) de belíssimos bambus. Embora curioso, deixou para a volta a surpresa dos últimos versos de seu anônimo adversário, para envolver-se cada vez mais com a poesia da natureza, dos lagos, das flores, das árvores, dos pássaros, das aranhas, das formigas e das taturanas. De repente, sem explicação, fica cego. Fica desesperado. Mas como conhecia a fundo os ruídos, cheiros e as mínimas vibrações do mato, dos ventos e dos animais, consegue se orientar. Irritado com a demora da luz, profere, com raiva, a reza de São Marcos. Tomado de fúria, avança numa só e precisa direção: a casa de João Mangolô. Vai guiado pelos ruídos e cheiros que, pouco a pouco, começam a se tornar familiares. Assim, chega, de súbito, na cafua do João Mangolô, e começa a esganá-lo, furioso. Nisso, volta a enxergar. O negro velho havia amarrado, por brincadeira vingativa, uma tira nos olhos de um retrato do narrador, irreverente e zombador, que não acreditava em feitiçaria, ainda que fosse supersticioso. Há, no conto, três fábulas: a do feiticeiro e das feitiçarias, a do passeio e da natureza e a dos poemas. O principal ponto de convergência se manifesta na função criativa da palavra. Nas três fábulas, a palavra é valorizada não pela função referencial, de indicar seres existentes fora dela, mas enquanto forma de criação de novas realidades e de conhecimento, que se efetua principalmente graças ao plano da expressão. Tanto no poema quanto na feitiçaria é quase irrisório conhecer o significado das palavras e enunciados. Este permanece como algo mais intuído que compreendido. A reza de São Marcos não interessa enquanto significado, sentido - "é melhor esquecer as palavras" - mas como rito, magia, iniciação transcendentalista. Em todas as fábulas processa-se, assim, uma volta às origens: através da reintegração total dos sentidos, da aproximação com a natureza, da crença na força da palavra. Conta-se, portanto, a história da revelação de um destino que se revela por um conhecimento estético superior do universo, manifesto na imersão sensual/sensorial mágica da natureza. A cegueira de Izé é o pretexto para que o autor faça aflorar outros sentidos, outras potencialidades do ser, que são, a seu modo, a "hora e vez" do narrador, a sua "travessia" no mundo do mistério e do encantamento.Corpo Fechado ? O narrador, médico em Laginha, vilarejo do interior, é convidado por Manuel Fulô para ser padrinho de casamento. Manuel detesta qualquertipo de trabalho e, enquanto bebem cerveja, divertem-se, ele contando e o doutor ouvindo as histórias e os casos: do rato que tinha em casa enjaulado e que estava, por artimanha sua, criando amizade a um gato rajado; dos valentões do lugar - José Boi, Desidério, Miligido, Dêjo (Adejalma) e Targino, o mais recente, e que teve a insolência de reunir seu bando e comer carne com cachaça em frente da igreja, numa sexta-feira da Paixão; dos ciganos que ele, Manuel Fulô, teria trapaceado na venda de cavalos; de sua rivalidade com Antonico das Pedras-Águas, o feiticeiro. Manuel possui uma mula, Beija-Fulô, e Antonico é dono de uma bela sela mexicana; cada um dos dois gostaria de adquirir o bem do outro. Aparece então Targino, o valentão do lugar, e anuncia, cinicamente, que vai passar a noite, antes do casamento, com a noiva de Manuel Fulô. Ele fica desesperado; ninguém pode ajudá-lo, pois Targino domina o lugarejo. Aparece então o feiticeiro Antonico e propõe um trato a Manuel Fulô: vai "fechar-lhe o corpo", mas exige em pagamento a mula Beija-Fulô, maior orgulho e paixão de Manuel. O trato é aceito. De corpo fechado, Manuel Fulô enfrenta o bandido Targino e, para espanto de todos, mata-o com uma faquinha do tamanho de um canivete. O casamento com a das Dor realiza-se sem problemas e de vez em quando consegue emprestada sua antiga mulinha Beija-Fulô, para ostentar, à cavaleiro, sua nova condição de valentão de Laginha.



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