O Evangelho Segundo Jesus Cristo
(José Saramago)
Após uma participação ativa da vida cultural e política de seu país, Saramago vive hoje na Ilha Lanzarote, no arquipélago espanhol das Canárias. Segundo ele, não é um exilado. Mas, a decisão pessoal de sair de Lisboa se deu após o Governo português ter censurado a sua participação num concurso internacional, no qual representaria o país com o livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo. A censura se deu sob a alegação de que a obra era ofensiva às crenças do povo e poderia ter sido muito mais severa , estivéssemos nós em um outro período da história de Portugal,ou seja, aqueles longos anos em que não se permitia questionar o poder de Deus e da Igreja, a Pátria e as autoridades instituídas. A quem destoasse desse ritmo, como se sabe, estavam reservados os porões da Ditadura Salasarista que teve fim com a Revolução dos Cravos, em 1974. Como ateu confesso, interessado na história das religiões enquanto fenômeno humano, como ele mesmo declara_ religião é uma criação humana ?, o autor trabalha a figura de um Jesus histórico, que ganha existência e personalidade absolutamente diferentes do que até então se convencionou, ou acreditou. Saramago cria, assim, um Cristo baseado em suas próprias dúvidas, Desde as primeiras linhas de O Evangelho Segundo Jesus Cristo, percebemos a sua estratégia: a da narrativa que se alimenta de outras narrativas. Não é apenas de Evangelhos canônicos (seu ponto referencial) como poderá pensar um leitor menos informado. Há aí uma apropriação múltipla, inclusive de outra linguagem artística como é a da obra plástica de Durer no primeiro capítulo, passando por inúmeros recortes do Velho Testamento, ? Eclesiastes, Jó, Cântico dos Cânticos ? dos Evangelhos Apócrifos e por incursões filosóficas e psicanalíticas, com alusões a Aristóteles, Freud e outros. Colocando-se como um novo evangelista, ousa recontar uma história tantas vezes já contada e que, por isso mesmo, requer uma forte dose de invencionismo, para que se instituam novos sentidos sobre os já existentes, preenchendo, artisticamente, as lacunas deixadas pelos contadores que o antecederam. Proclamando-se, então, a renovação e a relatividade, sobrepondo-se a um conteúdo acabado, por vezes profanando o que é tido como divino e/ou divinizando o que é tido como profano.Assim, nessa nova e especial história de Jesus, testemunhamos a recriação de um Jesus que se nos apresenta como um ?humanista radical, que com vigor toma o partido dos homens, ecomo personagem humanizada sofre as conseqüências da sede de poder do Pai (Deus) que não poupou o filho para expandir ou glorificar o seu reinado. Sempre com um toque de utopia, Saramago constrói cenários, nos quais reflete verdades cristalizadas, ideologias cristãs e dogmas até então inquestionáveis, com interpretação pessoal e anticanônica dos fatos.Acrescente-se a issoa linguagem poética e o profundo lirismo, que são marcas do seu estilo, presente em todas as suas obras, e nessa, em especial, tem no casal ? Jesus e Maria de Magdala ? a sua fonte maior de inspiração,
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