O Primeiro Crime
(Carmen Moreno)
O Primeiro Crime (Ed. Rocco, 2003), romance de cunho policial da escritora carioca Carmen Moreno, é composto por dez instigantes capítulos. Ao começar a leitura, nos deparamos com uma notícia que a personagem ? manifestada em primeira pessoa do singular ? recebe via telefone, no Rio de Janeiro. O recado, dado pelo caseiro do sítio da protagonista, é de que houve um deslizamento de terra na propriedade. Mais do que isto, José também revela que foi encontrada uma ossada humana enterrada, justamente, nesta área de terra. Desde o início, a narrativa já se apresenta, então, curiosa e intrigante. Sônia, a personagem protagonista, necessita viajar para o sítio, que se encontra sob os cuidados da família do caseiro. Ela deixa seu marido, Carlos Alberto, com a empregada, pois este se encontra em estado quase que, vegetativo. Sônia é casada há 16 anos com ele, que antes de sua invalidez, fora um homem rude, grosseiro, com ciúmes até de seu irmão, Carlos Eduardo, devido a este nutrir carinho especial por Sônia. Nesta obra, Sônia relembra um momento peculiar de sua infância conturbada pelas brigas dos pais e da amizade com uma amiga adolescente, que jamais voltou a ver. Mais para o presente, alude o momento em que ela e o marido ? ainda saudável ? foram a uma festa na casa de Antunes ? sócio da empresa de computadores de Carlos Alberto. Esta festa é memorável, pois na ocasião, avista fotos de seu marido com uma amante em seu sítio.A partir daí, Sônia muda: passa da mulher vulnerável, que não sabia dizer ?não!? ao marido e às pessoas, a ser uma pessoa mais fria, até mesmo ardilosa ? mas nem por isto deixa de denunciar, na narrativa, a pobreza do país, mesmo que esta não a aflija.A descoberta da ossada desencadeia em um longo e cansativo processo de investigações. Sônia toma conta da empresa do marido desde que este sofreu, acidentalmente, a hemorragia cerebral. Para isto, conta com a ajuda do amigo e societário de seu esposo. A esposa frágil, traída, com suas necessidades de mulher que ficam relegadas a segundo plano ? devido à doença do marido ?, acaba envolvendo-se, por um período de tempo, com o sócio. As idas à delegacia e as visitas do inspetor de polícia são constantes. A cada depoimento, Sônia fica mais preocupada: as investigações parecem não ter fim. Para conturbar ainda mais sua vida, em uma noite, retornando à empresa, descobre que se envolveu com um receptador de cargas roubadas e que o jeito de contornar os fatos é dar fim ao caso. Mas como se desvencilhar sem tornar-se vulnerável? E a empresa?Há muitas outras personagens envolvidas na história, fazendo parte ? (in)diretamente ? da vida de Sônia: o casal de lésbicas, Maria Rita (a amante do marido), Tainá (uma garota de programa), Índio (um rapaz drogado, do tipo que presta serviços), Tião (o filho do caseiro) são personagens que dão rumo a todos os fatos.Porém, é apenas no último capítulo do livro, intitulado ?O Crime?, que obtemos as informações que elucidam o caso. De maneira muito peculiar e inteligente, Carmen Moreno, apenas nas últimas páginas do livro (p.144 até a p.158) revela de quem é a ossada e quem foi o assassino.De quem seria a ossada encontrada? O silêncio de Carlos Alberto pode dizer algo? Até que ponto Sônia desconhece este crime? Você só vai saber lendo!
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