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A Arte De Escrever
(Fernando Nogueira da Costa)

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Quem escreve tem várias obrigações com o leitor, se quiser conservá-lo. A primeira é destilar. Deve fazer o trabalho preliminar para o leitor: reunir as informações, dar-lhes sentido, selecionar o essencial, rejeitar o irrelevante ? sobretudo rejeitar o irrelevante ? e colocar o restante de modo a formar uma narrativa dramática Que se desenvolve de modo a capturá-lo. Oferecer uma massa de fatos não digeridos é inútil para o leitor. Constitui simples preguiça do autor ou pedantismo para mostrar o quanto leu. O produto final é resultado daquilo que se escolheu para incluir, bem como daquilo que preferiu deixar de lado. Colocar tudo, simplesmente, é fácil ? e seguro ? e resulta numa dessas obras de 900 páginas, nas quais o autor abdicou e deixou a leitor todo o trabalho.Para eliminar o desnecessário, é preciso coragem e também mais trabalho. Pascal terminou uma carta de 4 páginas a um amigo dizendo: "desculpe-me tê-lo cansado com uma carta tão longa, mas não tinha tempo para escrever-lhe uma carta breve". Outro princípio, não discutir as evidências, as fontes, as teorias, em frente ao leitor. Os processos de raciocínio do autor não cabem numa narrativa. Devemos resolver nossas dúvidas, examinar as provas conflitantes, determinar os motivos atrás das cortinas e discutir nossas fontes nas notas de referências, e não no texto. Entre outras coisas, isso mantém o autor invisível, e quanto menos a sua presença for sentida, maior é a sensação de proximidade que o leitor tem com os acontecimentos. Ler, como escrever, é o maior dom com que o homem se dotou, por meio do qual podemos realizar viagens ilimitadas. Ler possui uma sedução interminável. Escrever, pelo contrário, é um trabalho pesado. É preciso sentar-se numa cadeira, pensar e transformar o pensamento em frases legíveis, atraentes, interessantes, que tenham sentido e que façam o leitor prosseguir. É trabalhoso, lento, por vezes penoso, por vezes uma agonia. Significa reorganizar, rever, acrescentar, cortar, reescrever. Mas provoca uma animação, quase um êxtase, um momento no Olimpo! Em suma, é um ato de criação! Quando se trata de linguagem, nada mais satisfatório do que escrever uma boa frase. É um prazer realizar, quando se pode, uma prosa clara e corrente, simples e ao mesmo tempo cheia de surpresas. Isso não acontece por acaso. Exige habilidade, trabalho árduo, um bom ouvido e prática constante. As metas, como já disse, são a clareza, o interesse e o prazer estético. Sobre a primeira, é importantíssima a arte de tornar o sentido claro! A comunicação é, afinal de contas, o objetivo para o qual a linguagem foi inventada. Para ela, há um critério tríplice: a convicção do autor de que tem alguma coisa a dizer; que vale a pena ser dita, e que pode dizê-la melhor do que ninguém. Dizer não para poucos, mas para muitos. Juntamente com a compulsão de escrever, deve estar o desejo de ser lido. Nenhuma página se torna viva, a menos que o escritor veja, do outro lado de sua mesa, o leitor, e busque, constantemente, a palavra ou a frase que levará a ele a imagem desejada e despertará a emoção que deseja criar nele. Sem a consciência de um leitor vivo, o que o autor escreve morrerá em sua página.



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