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Madame Bovary
(Gustave Flaubert)

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Se não fosse um romance realista do século XIX ambientado em pequeninas, monótonas e rurais localidades do interior da França, Madame Bovary poderia ser uma história atual de uma mulher quase normal, comtranstorno bipolar ou uma tensão pré-menstrual presente todos os dias,com direito a altos e baixos constantes. Se Emma Bovary fossepersonagem do século XXI, com certeza estaria fazendo terapia e tomandodrogas fortíssimas para controlar o humor. Emma é uma mulher que nuncasabe o que quer. Que quer tudo e que não valoriza quase nada do quetem. Uma problemática bem elaborada pelo autor, Gustave Flaubert, quedemorou cinco anos para concluir a obra e que foi acusado de ofensa àmoral e à religião por abordar o adultério, o desejo e os caprichosfemininos dentro da rotina do casamento entre uma bela donzela e ummédico emergente. Doispré-requisitos são necessários para iniciar a leitura da obra deGustave Flaubert: paciência e envolvimento. A linguagem extremamentetrabalhada e descritiva pode sufocar os mais afoitos, já que os fatosacontecem lentamente, sendo interrompidos por bucólicas descrições dapaisagem, do tempo, do vestido de Emma, suas rendas, seus caprichos eseu marido apaixonado e tedioso. Afinal, é um romance comprometido coma realidade e há momentos em que é até possível ?sentir o cheiro? doambiente descrito. Os detalhes possibilitariam a mesma elaboração deuma cena a muitos leitores. Em diversos momentos o autor afirma e reafirma em sua narrativa o quãoentediante é Charles, marido de Emma. Mas em uma leitura mais crítica,é intensa a força que Flaubert coloca no texto para perpetuar visão queEmma tem de Charles. Na realidade é ela que, com sua volatilidade, estásempre enfastiada de tudo e todos a sua volta. A rotina a corrói. Odia-a-dia não lhe pertence. Seus desejos enxergam a realidade como algoínfimo e inferior demais para ser vivido. Ela sonha com príncipes,riquezas e bailes... Os amantes trazem-lhe a vida e o brilho de volta, brilho que ela parecenunca ter tido, já que, quando solteira, passava a própria existênciade forma modesta no campo com seu pai viúvo. A troca de amores de Emmapoderia também ser comparada ao que acontece hoje com algumas jovensmulheres que mudam de paixões ao sabor da vontade. O que não muda é quea maioria ainda o faz escondendo-se, atualmente em motéis, enquantoEmma fugia pela madrugada em direção aos quintais de seus desejos. Masa diferença mortal é que, na época em que Emma foi criada, apossibilidade de liberdade e escolha ou troca era tão remota quantoafirmar que os negros vão dominar a riqueza do mundo e que o Brasil vaiser país de primeiro mundo. Impossível visualizar. Emma é uma mulher que busca um caminho diferente daquele em que foipreparada para percorrer. Mas como fazê-lo se toda mulher era preparadae empurrada para o casamento? O comportamento da personagem de Flaubertanuncia uma mudança que em breve colocaria o mundo macho de cabeça parabaixo: o poder de escolha da mulher que sempre esteve paralisada pelasordens dos homens. Emma não aceitava ser dominada, não era submissa,prendada ou fiel. O tédio de Emma vai além da falta de graça e vida de seu marido, porquequase nada a satisfaz por muito tempo. Vaidosa, cheia de vontades, umaverdadeira mulher de fases, que ora alterna o ímpeto da paixão pelavida e pelos amantes, ora entra em um estado de letargia desconsoladocom a existência. Nem o nascimento de sua filha faz com que o amorpleno tome conta de Madame Bovary, que procura incessantemente aspaixões nas páginas dos romances ? os quais chegou a ser proibida deler por causa dos conselhos da sogra, que pouco a estimava. As traições de Emma parecem ser percebidas por todos da pequenacomunidade. Diferente das mulheres prendadas e dedicadas ao marido, elaé uma verdadeira consumista que afunda Charles em dívidas homéricas eirreversíveis. Dinheiro, luxo, sexo, chantagem. Em um século sem Aids,querer satisfazer desejos sem preocupações mortais era um capricho.Emma buscava amantes que pudessem levá-la aonde ela quisesse, já quesozinha ela não poderia ir. Ela queria ser quem não era ? fenômeno hojedesignado pela psiquiatria como Bovarismo. Alémda leitura de romances e da existência de idéias permanentes epertencentes a um mundo paralelo que corrói apenas sua mente e trazdesgraças para seu marido, Charles, Emma arquiteta cuidadosamenteaventuras reais. Aventuras que se transformam em desconfortáveisparanóias a partir do momento em que ela começa a perder a noção darealidade e entra de vez no mundo de sonhos e desejos de uma vidarepleta de emoções arrebatadoras. Um comportamento que demorou algunsanos para que se tornasse verdadeiramente perigoso, mas que, como umacova funda, engoliu Emma e sua família de forma drástica e trágica,acidamente e detalhadamente descrito por Flaubert, grande estudioso daestupidez humana em uma época em que a medicina, a moral e a religiãoainda causavam muitos erros, enganos e dores.



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