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As Intermitências Da Morte
(José Saramago)

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Houve uma época em que eu detestava Saramago. E que pensava que nunca mais leria um único livro seu. Pois bem, meu trauma deve-se à leitura (na graduação) de Todos os Nomes, que, por mais que agora entenda melhor a ética saramaguiana, continua sendo para mim um livro absurdamente tediante.... Mas a resistência foi superada (sem anestesia ou análise) com um estudo mais aprofundado sobre o passado e a cultura portuguesa, bem como a vida e o posicionamento ético desse grande autor. Li em torno de dez de seus livros e passei a admirar seu trabalho!Gostaria de comentar seu mais recente lançamento, As Intermitências da Morte. O autor parte de uma simples, mas original idéia: e se não morrêssemos mais? O que aconteceria? Diferente do paraíso ansiado pela sociedade hedonista e de culto ao corpo (em que se é proibido ser infeliz e a morte, não podendo ser banida, é escondida, ignorada, tratada com indiferença), Saramago apresenta a dura realidade: precisamos da morte, em todos os setores (inclusive religioso) para sobreviver. A primeira parte do livro é como um ensaio, demonstrando as possíveis conseqüências da ausência da Morte na sociedade: falência e caos nos hospitais, nos asilos, nas funerárias, na previdência, nas famílias, no governo, na Igreja (afinal, sem a morte, como é possível a ressurreição?). É nessa situação desesperadora que as pessoas descobrem que não existe apenas "a" morte, mas várias mortes, de diferentes tipos e hierarquizadas.Então, num segundo momento, Saramago apresenta a personagem morte (com letra minúscula, afinal ela é apenas a responsável pelas mortes daquele país específico...), com uma personalidade humana, demasiada humana... Não há como não sentir simpatia por ela!! Para quem nunca leu alguma obra do escritor, essa é uma boa pedida. Sim, o narrador intruso, extremamente irônico, não-digno de confiança está mais presente do que nunca, bem como sua maneira peculiar de quase não pontuar o texto. Mas é uma história que flui, que prende o leitor até o fim! Altamente recomendável!



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