Memórias Do Escrivão Isaías Caminha
(Lima Barreto)
É um livro pungente em todos os sentidos, leitura obrigatória. Isaías Caminha, menino do interior, tomou gosto pelos estudos através da desigualdade de nível mental entre o seu pai, vigário, e sua mãe. Admirava o pai que lhe contava histórias sobre grandes homens. Tinha ambições e um dia decide ir para o Rio fazer-se doutor. Aconselha-se com o tio Valentim. Este visita o Coronel Belmiro, chefe eleitoral local, que redige uma carta recomendando Isaías para o Doutor Castro, deputado. Segue para o Rio com algum dinheiro e esta carta. Instala-se no Hotel Jenikalé, na Praça da República e conhece o Senhor Laje da Silva ? diz ser padeiro e é incrivelmente afável com todos, em especial com os jornalistas. Através dele conhece o doutor Ivã Gregoróvitch Rostóloff, jornalista de O Globo, romeno, sentia-se sem pátria e falava 10 línguas. Decide procurar o Deputado Castro para conseguir seu emprego e poder cursar Medicina. Dirige-se a Câmera: "subi pensando no ofício de legislar que ia ver exercer pela primeira vez, em plena Câmera dos Senhores Deputados - augustos e digníssimos representantes da Nação Brasileira. Não foi sem espanto que descobri em mim um grande respeito por esse alto e venerável ofício <...> Foi com grande surpresa que não senti naquele doutor Castro, quanto certa vez estive junto dele, nada que denunciasse tão poderosa faculdade. Vi-o durante uma hora olhar tudo sem interesse e só houve um movimento vivo e próprio, profundo e diferencial, na sua pessoa, quando passou por perto uma fornida rapariga de grandes ancas, ofuscante sensualidade.". Tenta falar com o doutor Castro mas não consegue. Quando consegue, este o recebe friamente dizendo que era muito difícil arranjar empregos e manda o procurar no outro dia. Isaías descobre que o deputado estava de viajem para o mesmo dia e é tomado por um acesso de raiva. Com o dinheiro no fim, sem emprego, recebe uma intimação para ir à delegacia. O hotel havia sido roubado e prestava-se depoimentos. Ao ouvir as palavras do Capitão Viveiros: "E o caso do Jenikalé? Já apareceu o tal "mulatinho"?". Levado a presença do delegado, começa o interrogatório: "? Qual é a sua profissão? ? Estudante. ? Estudante?! ? Sim, senhor, estudante, repeti com firmeza. ? Qual estudante, qual nada! Dessa vez tinha-o compreendido, cheio de ódio, cheio de um santo ódio que nunca mais vi chegar em mim. Era mais uma variante daquelas tolas humilhações que eu já sofrera; era o sentimento geral da minha inferioridade, decretada a priori, que eu adivinhei na sua pergunta." O delegado continua o interrogatório até arrebatar chamando Caminha de gatuno, que chama o delegado de imbecil. Foi preso. Passa pouco mais de 3 horas na cela e é chamado ao delegado. Este se mostra amável, dando-lhe conselhos. Caminha sai da delegacia e decide mudar-se também do hotel. Passa a procurar emprego mas na primeira negação percebe que devido a sua cor seria muito difícil se ajustar na vida. Passa dias perambulando pelas ruas do Rio, passando fome, vendendo o que tinha para comer algo, até avistar Rostóloff que o convida para dar um passada na redação de O Globo ? onde passa a trabalhar como contínuo. Nesta altura a narrativa sofre um corte, e entra a descrição dos funcionamentos da imprensa. O diretor é retratado como ditador, temido por todos visando ao aumento das vendas do seu jornal. Aires d'Avila era o redator-chefe; Leporace, secretário. A tônica de O Globo era a crítica acerba ao governo e seus "desmandos", Loberant se considerava o moralizador da República. Isaías se admira com a falta de conhecimento e dificuldade para escrever desses homens que nas ruas eram tratados como semi-deuses e defensores do povo. Por este tempo, Caminha havia perdido suas ambições e acostumava-se com aquele trabalho. Notável o que se diz do crítico literário Floc (Frederico Lourenço do Couto) e do gramático Lobo ? os ?ditos? intelectuais do Globo. Lobo era defensor do purismo, de uma língua sagrada. Acaba num hospício, com medo que o faar errado o tenha impregnado e tapando os ouvidos para não ouvir. ?Confundia arte, literatura, pensamento com distrações de salão; não lhes sentia o grande fundo natural, o que pode haver de grandioso na função da Arte. Para ele, arte era recitar versos nas salas, reqüestar atrizes e pintar umas aquarelas lambidas, falsamente melancólicas. <...> suas regras estéticas eram as suas relações com o autor, as recomendações recebidas, os títulos universitários, o nascimento e a condição social." Certa noite, volta entusiasmado de uma apresentação de música e vai escrever a crônica para o dia seguinte. Após algum tempo, o paginador o apressa. Ele manda esperar. Floc tenta escrever o que viu e ouvira, mas seu poder criativo é nulo. Ele se desespera. O que escreve rasga. Após novo pedido do paginador, ele se levanta, dirige-se a um compartimento próximo e se suicida com um tiro na cabeça. O redator de plantão chama Isaías e pede para que ele se dirija para o local onde Ricardo Loberant se encontra e jurasse que nunca diria o que viu. Isaías vai ao local indicado e surpreende Loberant e Aires d'Avila numa sessão de orgia e os chama para o jornal. Loberant passa então a olhar com mais atenção a Isaías e o promove até repórter. Divide confidências e farras. Isaías ganha a proteção e dinheiro de Ricardo Loberant. Depois da euforia inicial, Isaías se ressente.
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