Amnésia
(Sergio Oliveira)
Entrei no quarto escuro, acendi a luz atravessei a sala e olhei para o espelho que se encontrava junto à parede. A face que olhava para mim era a minha, mas era também a de um estranho que nunca tinha visto antes. Tudo o que se tinha passado antes daquele momento tinha-se esvaído como a areia de uma ampulheta, de quem eram aqueles olhos misteriosso que olhavam para mim?
Como é que eu tinha chegado ali? Como é que me chamava? Perguntas sem resposta, mistérios indecifráveis que aqueles olhos enigmáticos só conseguiam adensar. Procurei as respostas nos quartos vazios e nos corredores silenciosos, mas não encontrei nada, nenhuma fotografia, nenhum documento, nada que me dissesse quem eu era, nada que me revelasse quem eu tinha sido, nem mesmo sabia se aquela casa era minha. Já sem esperança de encontrar fosse o que fosse, entrei no último quarto, apertei o interruptor, mas a luz não se acendeu. A lua iluminava tenuemente o quarto, o suficiente para me orientar até ao candeeiro, mas quando o acendi, tropecei e caí na cama sobre algo quente e molhado. Olhei e, ao mesmo tempo que ouvia um gemido de sofrimento, vi a figura grotesca de uma mulher deitada sobre uma poça de sangue e horrivelmente mutilada. Os braços e as pernas tinham sido cortados, assim como a língua, os olhos pendiam das órbitas e o mais assustador é que estava consciente. Nesse momento soltou um grito que pouco tinha de humano e voltou a desfalecer. Recuperado do choque inicial levantei-me da cama e saí do quarto para vomitar logo em seguida. Sabia cada vez menos, mas sabia que tinha de sair dali.
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