Pantaleão E As Visitadoras
(Vargas Llosa, Mario)
Vargas Llosa sempre bebeu na fonte dos grandes autores, e por William Faulkner ele tinha verdadeira admiração, e através do estudo crítico dos seus livros, esmerilhou a sua própria escrita. Histórias que se cruzam, pensamentos que aparecem como se fossem do nada e que levam tempo para serem compreendidos. Pantaleão e as Visitadoras é isso, texto leve, menor se comparado à grande obra do autor, mas mesmo assim altamente interessante. Estupros estão acontecendo nas cidades próximas aos destacamentos do exército na floresta amazônica peruana, e o Estado-Maior cria um serviço de ?visitadoras?, para aplacar o fogo dos soldados, duplamente atacados, pela falta de mulheres, e pelo calor e umidade da selva. Criar não é bem o termo, a hipocrisia leva o exército a construir uma excrescência, incentivar a prostituição com princípios nobres (a paz fisiológica dos homens). O nosso (anti) herói é Pantaleão Pantoja, tenente, com verdadeira adoração pelo seu serviço, que põe para girar uma engrenagem que mais desagrada do que cativa a população. Os choques serão inúmeros, é a Igreja, é a população, é a seita religiosa que em nome de Deus, efetua sacrifícios humanos, é a corrupção dos valores em alto grau. Tudo isso contado através de cartas e memorandos oficiais. O ir e vir da história funciona perfeitamente dentro do estilo faulkeneriano e podemos vislumbrar uma burocracia que deixaria Kafka corado. Vargas Llosa, formado em Letras, e apaixonado por Literatura, é também encantado pela selva amazônica (que visitou fazendo parte de uma equipe de pesquisas) e que tanta influência teve na sua escrita, fez páginas maravilhosas na sua obra utilizando-se das sensações que ficaram impressas na sua mente dessas viagens. Transpor ambiente tão inóspito, em época tão estranha para os países sul-americanos, é também uma crítica aos costumes de um país acossado pela pobreza e pelos valores impostos pelos mandatários do poder.
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