O Valor da Biodiversidade
(Nilson Marchioro)
A Gazeta do Povo, de Curitiba, do dia 10/07/00, traz matéria intitulada "IBAMA calcula que biodiversidade brasileira vale R$ 4 trilhões". Segundo a reportagem, o IBAMA vem conduzindo uma pesquisa de abrangência nacional, nos principais biomas do Brasil, com objetivo de verificar "quanto custa a natureza no país". As duas primeiras pesquisas teriam sido iniciadas no Paraná, nos Parques Nacionais do Superagui (Litoral do Estado) e do Iguaçu (Próximo à Foz do Iguaçu). Os valores estariam muito abaixo do esperado, segundo a matéria. A pesquisa vai ainda ser conduzida na Amazônia, no Cerrado, na Caatinga, nos Campos Sulinos, nos Mangues e demais regiões costeiras. E importante que o Ministério do Meio Ambiente preocupe-se com a questão da conservação da natureza, de uma forma geral, e com a valoração dos recursos naturais. A agência de águas vem aí, as commodities ambientais são uma realidade (viva a BECE !!), a regulamentação dos créditos do seqüestro do Carbono ocorrera em breve. Mas será que a "valoração da natureza" e tão simples assim? Os economistas, há bem pouco tempo, deixaram de considerar o meio ambiente como uma externalidade ao cálculo econômico, e são varias as tentativas de definição de uma metodologia que valore os recursos naturais, e por decorrência os seus "subprodutos". Qual seria o processo da calculo utilizado pelo IBAMA para a valoração em questão? A matéria da Gazeta do Povo faz menção ao valor dos benefícios ecológicos e recreativos proporcionados pelos parques avaliados no Paraná. O que são benefícios ecológicos? Estariam sendo considerados, por exemplo, o potencial da biodiversidade sob o aspecto farmacêutico? Ou a influência da vegetação sobre os mananciais regionais (inclusive os que formam as Cataratas do Iguaçu)? E o complexo estuarino lagunar abrangido pelo Parque Nacional do Superagui, um dos mais valiosos ecossistemas do mundo, sob que aspecto teria sido avaliado? E intenção do Governo Federal ter esse trabalho de "avaliação" concluído em 2002. Sabe-se que diversos institutos de pesquisa e universidades devem ser consultados e envolvidos nesse esforço. Como profissional das ciências agrárias e participante de diversos projetos na área de meio ambiente, tenho acompanhado a evolução das metodologias de avaliação no meio rural (como ocorrido na semana de 3 a 7 de julho em Curitiba, em evento promovido pelo IBAPE - PR, com a presença da economista Amyra El Khalili, responsável pela discussão das commodities ambientais nesse contexto). São conhecidas as dificuldades no processo de avaliação de propriedades rurais, com seus diferentes tipos de vegetação, variados tipos de solos e corpos d'água. E trata-se apenas de uma valoração visando o mercado de imóveis ou o calculo de indenizações. Como calcularíamos o valor da biodiversidade de um pais com as dimensões e variabilidade ambiental do Brasil? Quais fóruns nacionais discutiram essa metodologia? Com que objetivos esse calculo esta sendo realizado? Se cada um de nos, como bons brasileiros que somos (ou deveríamos ser), tivesse o poder de decisão, e recebesse de alguma instituição internacional uma proposta de compra de R$ 4 trilhões, por toda a biodiversidade brasileira, bateríamos o martelo?
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