APORIA
(Maria José Camecelha)
Este não é um dia para escrever palavras. Podia tentar
tudo: tratados, dos comerciais aos territoriais,
obras primas, obras tias, convergências que fizessem
do mero acto da escrita qualquer coisa de mais
complexo, menos apúrico, embora esta não seja
certamente a palavra certa. Porque palavra certa é sem
sentido, sem qualquer espécie de alternativa.
Esforçamo-nos (pouco, é certo), por
corresponder à ideia primeira que temos de nós
próprios. Essa confiança é muitas vezes abalada
quando nos ocorre um pensamento do tipo 'por que é
que, aparentemente, estou a escrever um editorial
para uma revista de divulgação? , não dá saúde a
ninguém.
Aporia, por si mesma, pode definir-se como um beco
sem saída? A resolução certa é trabalhar a ideia de
beco (como espaço que leva a um local onde, à
partida, não se pode passar além de) e sem saída.
Aqui, a ideia de saída, já transporta consigo uma ideia
de não ida em frente porque se quiser mesmo voltar
para detrás, a palavra a empregar não seria saída,
mas voltar atrás.
Portanto, beco sem saída, implica necessariamente
uma constante - um estado - em que o sujeito é
confrontado com uma não opção a não ser a de voltar
atrás.
Isto numa primeira abordagem porque, existindo
opção de voltar atrás, ou mesmo - existindo
meramente o mecanismo da opção - o sujeito não
está fechado, existindo um ponto de fuga. Aí, o ponto
de fuga é delimitado não pelo espaço físico (ou
figurativo) de beco sem saída, mas por uma
opção que envolveria o próprio ente, o próprio ser.
Assim, o seu sentido, como ser ontológico, não é, em
si mesmo, delimitado por espaço nenhum.
É essa ausência de espaço delimitador que pode
desconstruir a imagem de aporia como BECO SEM
SAÍDA e transformá-la numa segunda hipótese, à
partida mais interessante, em que a procura existe no
confronto entre uma ideia externa de sem saída e outra
ideia, interna, de contornar a não saída,
transformando-a numa polifonia.
Polifonia aqui surge não no sentido sonoro, mas no
sentido esquizofrénico do termo - múltiplo -
descompassado até, se se quiser.
E pronto, chegamos assim à conclusão de que não
conseguimos escrever, mas que conseguimos
ter uma noção clara de que 400 palavras são mais
ou menos o equivalente a uma página A4, num
formato normalizado e normalizador. Suspiramos de
alívio por termos levado esta tarefa a bom termo e
desejamos muito ir dormir, porque também pensamos
que o raio de beco em saída em que nos encontramos
não se resolve nem interna nem externamente, e que
por isso....
E então continuamos.
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