A festa dos Reis - em Rio de Onor
(Antonio A. Pinelo)
Rio de Onor continua a ser a aldeia mais comunitária de Portugal, tal como foi descrita por Jorge Dias, há mais de quarenta anos. A Festa dos Reis celebrada normalmente a 6 de Janeiro, mas por vezes antecipada para o fim de semana mais próximo é bem o exemplo das caracteristicas deste povo que mantém inalteráveis todas as formas da secular organização comunitária.
Na Festa dos Reis ou Festa dos Rapazes, os jovens solteiros comandam durante dois dias a vida da aldeia substituindo a instituição comunitária do conselho. É uma festa integrada nas celebrações do Solsticio de Inverno, a mais expressiva para o homem agrário desta zona, ou seja é a Festa da Natureza, da fertilidade, da purificação e da religação dos vivos aos mortos, do profano ao sagrado. Inicia-se com a ronda pela aldeia, pela madrugada,com gaiteiro e bombo, para chamar os rapazes para a festa e avisar o povo do peditório que se segue.
O peditório é feito pelos rapazes mascarados ("caretos") e inserido num conjunto de realizações que decorrem nas aldeias do Nordeste Transmontano, durante o Solsticio de Inverno e inicio do ano, destinadas à expurgação dos males da comunidade, à preparação do novo ciclo reprodutivo da Natureza, à propiciação ao sobrenatural para que se multiplique por muitas vezes o que se oferece ao mascarado, que é como quem diz ao sacerdote, que por sua vez oferecerá ao santo. No ritual do peditório o "careto" pede e exige e assim todos os vizinhos se sentem "obrigados" a dar uma chouriças ou qualquer outra peça do fumeiro.Durante o ritual o "careto" pede e exige e tem liberdade para dizer e fazer tudo o que lhe aprouver, sentindo-se completamente à vontade pois " os caretos, nunca se sabe quem são".
Pela noite adentro, cantam-se os reis, de casa em casa mas o convivio dos rapazes vai continuar nas noites seguintes para consumir o fumeiro que foi oferecido à festa.
Por sua vez, as moças da terra organizam o Ritual do Ramo. Uns dias antes da Festa dos Rapazes, as zeladoras da santa (Nossa Senhora de Fátima) fazem o seu peditório pela aldeia, afim de reunirem os géneros necessários para o arranjo do ramo. A base fundamental deste é a chouriça e algum salpicão, chegando a juntar mais de 15 quilos de chouriças, mas também lhe acrescentam guloseimas, chocolates, doces, que elas próprias fazem.
Este ramo dos Reis integra depois a liturgia da missa e é conduzido em cortejo e com o acompanhamento de todos os habitantes para a igreja, como diz Joaquim Pais de Brito no seu livro Retrato de Aldeia com Espelho. No fim da missa é leiloado no adro, revertendo o produto deste a favor da santa.
Em tudo semelhante ao ritual do "charolo" (andor decorado com roscas de pão) que se celebra em outras terras do Nordeste, o ramo enquadra-se nas festividades agrárias, celebrando a fertilidade e a abundância e possui um significadp perfeitamente condizente com a nossa religiosidade popular : oferecer à divindade o que de melhor se possui para que a divindade seja generosa, de modo a multiplicar as oferendas no novo ano e no ciclo agrário que se inicia.
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