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Le Monde diplomatique
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A revolta dos subúrbios As razões da cólera Por Laurent Bonelli ( in “Le Monde Diplomatique” – edição portuguesa, Dezembro 2005 ) O balanço dos distúrbios verificados em França, entre finais de Outubro e meados de Novembro de 2005, é trágico: milhares de edifícios públicos e de automóveis queimados, declaração do estado de emergência, perto de 4700 pessoas intimadas e mais de 400 condenadas à prisão. Afinal, o que aconteceu? Muitos comentadores consideraram unanimemente esta crise como provocada por “inimigos do nosso mundo”, responsáveis pela “crise da civilidade urbana” . Em vez de generalidades matizadas por diferentes motivações políticas e sociais, tais observadores deveriam proceder a uma análise racional do problema, recordando as suas condições sociais e o seu carácter contingente. A crise económica da segunda metade da década de 1970, aliada à informatização e às deslocalizações de empresas, provocou o desemprego maciço, com o recurso ao trabalho temporário, agudizando as condições de vida dos meios populares. Os jovens entre os 15 e os 24 anos moradores nos bairros atingidos pelos distúrbios, são os mais afectados pelo desemprego, como refere o Instituto Nacional de Estatística e de Estudos Económicos – desde o bairro de Ousse-de-Bois (Pau), com 31,7 por cento, até 54,4 por cento em Bellefontaine (Toulouse). Indecisos quanto ao futuro e impedidos de acalentar projectos pessoais a prazo (matrimónio, habitação, etc), estes jovens tornam-se presa fácil de comportamentos desviantes. Esperanças defraudadas de ascensão social As expectativas de ascensão social que o prolongamento do sistema escolar criou nos adolescentes foram rapidamente desfeitas, uma vez que a escola não altera as hierarquias sociais. As consequências foram a banalização dos tumultos e o abandono da escola. As políticas urbanas de construção de bairros periféricos, com familias numerosas e de escassos recursos, contribuiu para o aparecimento de um mal-estar profundo entre “franceses” e “estrangeiros”. Em resposta à “exigência de segurança” que a classe política advogava e em vez de uma polícia de investigação, privilegiou-se a polícia de intervenção, com a criação de brigadas anticriminalidade apetrechadas com poderosas armas ofensivas e defensivas. As suas intervenções junto dos jovens problemáticos resumiam-se a repetidas agressões, acusações judiciais e humilhações. A confirmar esta tendência, as estatísticas policiais, que apontavam para a duplicação das intervenções entre 1974 e 2004, referem agora um aumento de 39 vezes no número de interpelações por infração à lei dos estupefacientes, por exemplo. A presença policial na rua e o aumento do controlo de certos grupos sociais provocaram a deterioração das relações entre tais grupos e a instituição. A degradação económica, social e moral dos meios populares, agudizada por 30 anos de políticas liberais e estratégias policiais, culminou na explosão de cólera provocada pela morte de dois adolescentes que fugiam de um controlo em Clichy-sous-Bois, levando aos distúrbios acima referidos. Um modo comum de protesto Contrariamente aos “especialistas em violência urbana” que omitem as responsabilidades da polícia na génese da violência colectiva, Lucienne Bui Trong, antiga comissária das Informações Gerais, reconhece que a polícia esteve implicada no eclodir de um terço dos 341 distúrbios recenseados pelo seu serviço entre 1991 e 2000. O que distingue os acontecimentos de Clichy-sous-Bois dos anteriores, é o facto de que agora grupos mais pequenos fazem uma espécie de “guerrilha urbana” sem afrontarem directamente a polícia. Os incêndios de automóveis (e em especial dos contentores de lixo), prática habitual desde há anos, constituem uma forma fácil e espectacular de contestação de jovens a quem a sociedade barra o acesso a formas pacificadas de mobilização. Estas actuações não devem ser identificadas com delinquência, já que a maioria dos implicados não tem passado judicial. Um dos factores que contribuiu para a crispação dos ânimos, foram as declarações belicosas do Ministro do Interior, amplamente divulgadas pelos mass media. Defensor de uma relação musculada com os manifestantes, Nicolas Sarkozy procurou tirar dividendos políticos de uma atitude dura e intransigente. E o tratamento que a imprensa dedicou a esta questão apenas serviu para difundir a ideia de que se tratava de um mvimento nacional, o que serviu para sincronizar e homogeneizar os actos de violência e criar uma dinâmica colectiva explosiva. As teorias que apontavam os islamitas ou os grupos de crime organizado como catalizadores da crise, constituem uma atitude cínica para justificar a perda de controlo da situação e a tomada de medidas radicais. Os distúrbios do Outono de 2005 podem servir de pretexto para novas regressões sociais. O Governo prometeu implementar os 14 anos de escolaridade, o fim da lei de reforma do secundário e o aumento da flexibilização do emprego não qualificado. Por outro lado, deverá assistir-se ao endurecimento dos poderes judicial e policial, com os efeitos negativos correspondentes. Também as prestações sociais poderão servir de chantagem para comportamentos “anti-sociais” de crianças filhas de imgrantes ou de famílias modestas. Desorientação da esquerda Uma esquerda politicamente consequente aproveitaria esta situação para propor projectos globais de transformação, contrariando um Governo que procura desfazer as prestações sociais e que alimenta chavões como os “franceses” contra as “famílias poligâmicas” ou as “vítimas” contra os “autores”. No entanto, nem o Partido Socialista se definiu ainda claramente sobre o prolongamento do estado de emergência, nem o Partido Comunista ou a extrema-esquerda apresentaram alternativas. E é realmente a organização de indivíduos de diferentes origens e estruturas profissionais e confessionais em torno de objectivos políticos comuns que poderá melhorar o seu destino colectivo, não apenas nos subúrbios, mas em todo o lado.



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