Retratos
(Sinvaline Pinheiro)
RETRATOS “Vendi-si jeladera”. A placa se destaca pela disformidade das letras. Alguém se esforçou muito para escrevê-la, ou seja, desenhá-la, enfim, é uma obra de arte e o autor tem pressa do dinheiro da geladeira. Um barraco caindo aos pedaços, me recebe uma mulher idosa, mal humorada, que fede fumo. Se apoiando em um bastão me leva a outro barraco nos fundos. Só que o outro está limpo, bem cuidado. Ela grita com alguém para abrir a porta: – Fulana, tem gente querendo olhar a geladeira, levanta! Abre a porta uma moça de mais ou menos uns 25 anos de idade, com um bebê nos braços, tem o olhar triste e com a voz fraca me convida a entrar. O mobiliário se resumia em uma mesa, uma cama, um fogão e a geladeira em questão. Ela diz que quer vender, pois precisa de dinheiro urgente. Tento puxar conversa, discuto o preço, mas ela se fecha, mal respondendo às perguntas. Olhei a geladeira que só continha água e não gelava bem, mas mesmo assim fiquei de voltar depois. Ao sair dou uma última olhada em volta, ali o ar estava triste, poluído de falta, falta de tudo... Já no portão, a velha senhora insiste para que eu feche o negócio. Pergunto de quem afinal é a geladeira. Ela se justifica, diz que o dinheiro da venda é para pagar o aluguel que está atrasado, pois precisa receber e não vai ajudar gente vagabunda. Completando diz que o marido da mulher está preso, dorme na cadeia e só vem durante o dia, não conseguindo o dinheiro do aluguel... blá, blá, blá... Sigo pelas ruas sentindo uma sensação enorme de impotência. O rosto do bebê, o olhar da moça sua mãe, a insistência da dona da casa, a falta de tudo se retratava ali naquele instante... Instante de todos os instantes, da miséria, da falta; instante duma realidade que é o retrato de nossa gente, nossa realidade, retrato de nosso Brasil..,
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