Como Carlos Drummond começou a escrever...
(Carlos Drummond de Andrade)
Em 1910, não existiam o rádio nem a televisão. No interior brasileiro havia sessão de cinema só aos domingos. Notícias do mundo chegavam três dias depois, quando a publicação já havia acontecido no Rio de Janeiro. Na época de chuva, então, eram sete dias. Os jornais chegavam ensopados. Desenhos e notícias se misturavam. E leitura ficava impraticável.
O pai de Drummond assinava a Gazeta de Notícias. Ele mostrava ao filho, ainda criança que não sabia ler, as gravuras coloridas do suplemento de domingo. Procurava entender o que as gravuras queriam dizer, com a ajuda da mãe. Quando foi para a escola, já percebia que o mundo das palavras era imenso. Queria conhecer tudo. As suas professoras passavam exercícios de redação variados: cartas para escrever, contar sobre as férias, descrever sobre as pessoas e os seres. Enfim, descobrir o universo através das palavras. Carlos Drummond começou a gostar disso. Como era misterioso o mundo das letras! Quantas coisas a aprender! Quantas idéias a escrever! Que sinais maravilhosos, as palavras!
Já rapaz, conheceu amigos que também se expressavam, amavam a leitura e a escrita. Foi um tempo de aprendizagem, de trocas, de idéias. Sentados nos bares, conversando por horas que se perdiam, sem preocupar-se com o relógio, o rapaz Drummond mostrava o que havia escrito e seus amigos, também. Todos comentavam e criticavam os textos. Era um estudo minucioso e crítico do que escreviam. Eles aprendiam e a amizade reinava solta, soberana, unindo aqueles amigos pelo coração e pela palavra.
Se hoje os amigos escrevessem mais e se revelassem, teríamos muito mais textos. A vida seria um livro aberto. Literalmente.
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