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Folha de Sao Paolo
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As explicações do chanceler brasileiro, Celso Amorim, à Comissão de Relações Exteriores do Senado, na terça-feira, 9 de maio, extrapolaram em muito as questões dos parlamentares acerca da guinada à esquerda do presidente boliviano, Evo Morales, que nacionalizou a exploração do gás natural em seu país ao completar cem dias de governo, simbolicamente comemorado no Dia do Trabalho. A preocupação dos senadores brasileiros reflete a apreensão justificada dos empresários, sobretudo os dependentes do gás para a fabricação de seus produtos, como é o caso da indústria ceramista. Mas o xis do problema, de fato, é o prejuízo que a Petrobras, a poderosa estatal brasileira do petróleo, poderá sofrer como resultado das medidas nacionalistas do governo Morales.
Na verdade, desde meados da década passada a Petrobras é parceira da congênere boliviana, a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos, na exploração e exportação do gás que vem a ser a principal riqueza da economia local. A Petrobras Bolívia é a maior empresa do país e realizou investimentos da ordem de US$ 1 bilhão entre 1996 e 2004. Nos meios econômicos brasileiros, a empresa é vista como leal sócia do desenvolvimento do país vizinho, apontado como o mais pobre da América do Sul., e nesta qualidade não se compara a uma multinacional com sede no mundo desenvolvido, como as várias que atuam na Bolívia desde a virada deste século, quando o governo abriu a exploração petrolífera ao capital externo.
Esta é a ótica que o governo brasileiro se esforça por fazer prevalecer nas intrincadas negociações com o governo Morales, e pelo menos um dado pode ser apontado como evidência maior na sua defesa: 50% do gás consumido no Brasil, hoje, vem da Bolívia. Nenhum país se sujeitaria a tal dependência externa se guardasse recônditas intenções maléficas com relação ao fornecedor. Esta mesma dependência, por sinal, é apontada como excessiva por absolutamente todos os analistas e observadores do cenário atual. A presença brasileira na economia boliviana através da Petrobras, no entanto, serve também como pedra de toque no discurso nacionalista e estatizante do governo empossado em janeiro. Assim, a pecha de “sub-imperialista” com que o Brasil é brindado na vizinhança sul-americana desde a década de 70 do século passado, quando sua economia sobrepujou as demais na América Latina, é mais uma vez alardeada, embora sem consistência, como advertiu o chanceler Amorim aos senadores em sua explanação.
No fundo, a questão do gás boliviano é apenas a primeira de uma série já anunciada na iminente desapropriação de terras na fronteira, o próximo passo do governo que, assim, pensa imprimir contornos revolucionários a si próprio. É fato que a Bolívia sempre teve suas riquezas exploradas por colonizadores, desde os espanhóis até as empresas multinacionais dos dias de hoje. É fato, também, que toda a América Latina viveu e vive ainda processo semelhante. O clássico “As veias abertas da América Latina”, do uruguaio Eduardo Galeano, estima que todo o ouro e toda a prata retirada dos países latino-americanos daria para construir uma ponta entre a América e a Europa. Não podemos dizer, portanto, que trata-se de novidade a constatação boliviana de agora, como tampouco suas pretensões legítimas de afirmar a soberania nacional em benefício da sua população.
O que parece ocorrer, no momento, é mais uma evidência da imperiosa necessidade de mudança no equilíbrio da economia internacional pós-globalização da década passada. Michel Camdessus, que durante anos esteve à frente do Fundo Monetário Internacional, ao deixar o cargo vaticinou que alguma coisa teria de ser feita para ordenar a economia em escala mundial em bases mais justas com relação às nações em desenvolvimento. A América do Sul tomou a dianteira neste processo, com os governos contrários à hegemonia econômica norte-americana que encontraram o discurso comum na condenação à Área de Livre Comércio das Américas, a natimorta Alca. Brasil, Argentina, Venezuela,Bolívia e Paraguai estão afinados nos assuntos externos, em menor ou maior grau de identidade. É possível que o Peru venha se juntar ao grupo, caso Ollanta Humala vença o segundo turno das eleições.
É esta nova realidade que acirra posições antagônicas no Brasil, relativamente às ações bolivianas sobre o gás que produz. A dificuldade maior, seja do presidente Luís Inácio Lula da Silva, seja do seu chanceler Celso Amorim ou dos seus líderes de apoio parlamentar, é convencer o setor produtivo brasileiro que não é a Petrobras que terá prejuízo com a nacionalização do gás boliviano: é a Bolívia que deixará de ter prejuízo. Esta discussão pressupõe a disposição de aceitar novos parâmetros nas relações econômicas internacionais, sobretudo entre nações em desenvolvimento, como as latino-americanas. Mais uma vez, como a história dos povos tem demonstrado ao longo dos séculos, a união faz a força, e beneficia por igual os parceiros no decorrer do tempo.



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