Petrarca
(Mylla Couto)
Numa bela tarde, um homem subiu uma colina e lá do alto observou o mundo que se vislumbrava diante si, uma luz recobria o vale, tornando-o tão claro como se ainda fosse o período da manhã. Fascinado e envolvido por toda aquela luz esse homem sugeriu que amanhecia um novo período, dado que os homens deveriam sair da obscuridade para voltar ao brilho puro e prístino da Antigüidade. Esse homem chamava-se Petrarca, o local era Arquã, próximo de Pádua - seu lar -, e eram os anos de 1360. Ele acreditava que algo estava, realmente, a renascer. Ao mesmo tempo, e como conseqüência da sua determinação de proclamar esse progresso, ele avaliou que o passado, tal como se representou nos textos, moedas e medalhas antigas podia ser um lugar mais agradável que o presente: a Idade Média – um período obscuro, já fazia mais de mil anos. Para por termo a essa escuridão, retomar a Antigüidade podia ser um dos meios para melhorar a vida dos homens. A época dos antigos gregos e romanos foi plena de realizações culturais, enquanto que sua época lhe parecia bastante pobre. Essa visão petrarquiana correspondia ao que muitos sentiam. Petrarca deu forma e precisão a esse sentimento chamando-o de Renascimento: a generalização do estudo, a interação complexa de idéias pagãs e cristãs, uma fé redescoberta na dignidade do homem, enfim retomar do passado a valorização do ser humano.
Sem se afastarem da religião, os humanistas fizeram da capacidade de conhecer pela razão uma das qualidades mais elevadas do homem. A fim de poder empregar e desenvolver a inteligência humana defenderam o livre exame dos textos sagrados, inclusive da própria Bíblia. Mas, para muitos o estudo do passado era meramente uma forma de medir a desintegração do homem moderno. Entretanto, a imensa confiança nas qualidades humanas, que caracterizou o humanismo, permeou esse movimento, cujo espírito investigativo impulsionou o pensamento científico. Nenhuma investigação humana pode se chamar verdadeira ciência, se ela não passa pela experiência, a única interprete da natureza. Sem experiência não há certeza. O Renascimento implicava num potencial permanente da sociedade humana para melhorar. O homem, parte integrante e seu principal objeto, precisavam do passado para ver mais para além, deste.
William Shakespeare assim definiu o homem: “que obra de arte é o homem: tão nobre no raciocínio; tão vário na capacidade; em forma e movimento, tão preciso e admirável, na ação é como um anjo; no entendimento é como um Deus; a beleza do mundo, o exemplo dos animais”.
Petrarca, um poeta, símbolo do humanismo, sentia-se isolado da sua própria época e mais perto dos antigos: “escrevo para mim mesmo e enquanto escrevo converso ansiosamente com os meus predecessores do único modo que posso; e afasto alegremente da minha mente os homens com os quais estou obrigado, por destino nada grato, a viver”.
Estava certo quando previu que o conhecimento do passado nos revelará o futuro. E desde então o homem não mais será o mesmo. Ele precisará buscar a verdade. Eu acredito.
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