Pseudo-Nacionalismo
(Rodrigo Constantino)
Evo Morales fez ressurgir do fundo do baú um debate saudável sobre
nacionalismo, ao invadir com tropas ativos de uma empresa brasileira na
Bolívia, objetivando a sua expropriação. Uma medida claramente
populista, já testada – e totalmente fracassada – na América Latina.
Sempre com embalagens nobres, como a defesa do “interesse nacional” e o
“argumento” de setor estratégico, no fundo esta postura mascara somente
um desejo de poder. Trata-se de um pseudo-nacionalismo.
Na mesma
Bolívia, em 1937, o governo militar acusou a subsidiária da Standard
Oil de evasão fiscal e confiscou suas propriedades. O resultado foi
catastrófico, como não poderia deixar de ser. No México, em março de
1938, Cárdenas disse que pretendia assumir o controle da indústria de
petróleo, e assinou uma ordem de expropriação. Tal ato foi o símbolo de
uma resistência passional ao controle estrangeiro. O governo inglês
reagiu de forma bastante dura, insistindo que as propriedades
retornassem aos seus donos legítimos. Mas o México simplesmente
ignorou, dificultando as relações diplomáticas entre ambos os países.
Após
o racha, o México encontrou nos nazistas alemães e fascistas italianos
os seus maiores clientes. Foi estabelecida uma empresa estatal de
petróleo, a Pemex, que controlava praticamente toda a indústria no
México. O negócio de petróleo deixou de ser orientado para exportação,
e o país perdeu enorme importância no mercado mundial. A indústria
sofreu bastante também por falta de capital para investimentos, assim
como dificuldade de acesso à tecnologia moderna e gente qualificada. A
exigência do elevado aumento salarial, que havia sido o casus belli na
expropriação dos ativos, acabou cedendo espaço para a realidade
econômica, sendo adiado indefinidamente. O estrago tinha sido feito, e
as cicatrizes iriam acompanhar o México por longo período. O trauma
causado na indústria seria o maior desde a Revolução Bolchevique na
Rússia, que expulsou diversos investidores do país, forçando inclusive
a fuga da família Nobel, importante controladora de ativos de petróleo.
No
Chile de Allende, o primeiro aspecto de seu programa de governo foi um
assalto às propriedades privadas agrícolas, na medida conhecida como
tomas. As expropriações eram carregadas de violência, por bandos
armados, normalmente membros do MIR. Entre novembro de 1970 e abril de
1972, mais de 1.700 fazendas foram tomadas por bandos armados. Em
seguida, Allende iniciou um programa de nacionalização de diversos
setores da economia, como mineração e têxtil. Seu governo utilizou
pequenas brechas na lei para infernizar a vida das empresas, e
conseguir assim expulsar o capital estrangeiro do país. Os resultados
são conhecidos, com queda drástica na produção industrial, elevado
desemprego e hiperinflação.
Como fica claro, a expressão
“interesse nacional” é utilizada como escusa para a concentração de
poder nas mãos do Estado. O povo brasileiro não escapou ileso desta
irracionalidade demagógica. Brizola, por exemplo, sempre foi um grande
defensor da expropriação de ativos estrangeiros, supostamente na defesa
do tal “interesse nacional”. Com tal mentalidade, os políticos criaram
as reservas de mercado, a Lei da Informática, expulsaram multinacionais
do país e tudo o mais que poderia afastar investimentos produtivos que
geram o progresso de uma nação. Em nome do nacionalismo, prejudicaram
justamente o avanço da nação.
As lições deveriam estar
amplamente aprendidas. Estado não é sinônimo de povo. Governo não tem
que ser empresário. Interesse nacional não é o mesmo que interesse de
alguns políticos poderosos. Investimento estrangeiro não é o mesmo que
exploração. A manutenção de contratos é conditio sine qua non para a
prosperidade. Um ambiente amigável para os negócios, inclusive para
multinacionais, é fundamental para o progresso. Ser patriota não é
aderir ao pseudo-nacionalismo, que fecha a nação para o mundo e
concentra no Estado um poder arbitrário.
Evo Morales não luta
pelos “interesses nacionais” da Bolívia. Pelo contrário: suas medidas
populistas prejudicam a grande maioria de indivíduos bolivianos. Os
resultados são sempre terríveis quando a lógica é trocada pela
ideologia dogmática. E não há como se alegar surpresa na medida de
Morales. Afinal, é o que o Foro de São Paulo prega, o que defendem
Fidel Castro, Hugo Chávez e demais socialistas que tomaram o poder na
região, com os aplausos e apoio do presidente Lula, que também faz
parte do Foro fundado em 1990. Fica difícil imaginar como Lula irá
lutar pelos interesses dos indivíduos brasileiros desta forma.
O
pseudo-nacionalismo é o caminho da desgraça, da miséria, da escravidão.
O aprendizado está disponível para quem quiser. O povo tem a escolha:
ou adota este conhecido rumo “nacionalista”, que leva inexoravelmente à
catástrofe; ou abraça com força a idéia de liberdade individual, que
vai na contramão desse populismo que tomou conta da América Latina.
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