A Destruição do Ego
(Rodrigo Constantino)
"Não se dê aos outros a ponto de não poder mais se dar a si mesmo." (Baltasar Gracián)
Não
há nada mais valioso num indivíduo que o seu ego, seu "eu". A
integridade humana exige uma mente independente, que utiliza a razão
como instrumento epistemológico maior, e considera sua felicidade
própria como o mais elevado objetivo a ser atingido. Negar seu ego é
negar sua existência. Viver para os outros é ser um escravo. Abdicar da
razão é viver como um animal irracional, reagindo por instinto. Enfim,
é não ser homem!
Muitos tentam combater isso, seja por
desejo de poder sobre os outros, seja por um patológico ódio ao homem,
à vida e à liberdade. Existem diversas maneiras de destruir esse ego,
esse individualismo que nasce com os homens. Estar ciente desses
métodos utilizados por todos os inimigos do ego é crucial para o
combate desta praga que é a anulação do indivíduo como um fim em si
mesmo.
Uma das formas de destruir o indivíduo é fazê-lo
sentir-se pequeno, incutir culpa nele, matar suas aspirações e sua
integridade. Fazem isso pregando a abnegação, afirmando que o homem
deve viver para o bem dos outros, não o seu próprio. Afirmam que o
altruísmo é o ideal, ou seja, o sacrifício de seus próprios interesses
em prol do "bem geral". Ninguém consegue chegar lá, viver desta forma.
Todos os instintos humanos clamam contra isso. O homem percebe ser
incapaz de atender aquilo que aceitou como a mais nobre das virtudes,
passando a sentir-se culpado. Ele se vê como um pecador, um inútil.
Estando o ideal supremo acima de seu alcance, ele acaba desistindo de
seus ideais, de suas aspirações. Seu valor pessoal entra em colapso.
Sente-se obrigado a pregar como certo o que não consegue praticar. Sua
honestidade, seu senso de integridade, desaparece. Isso faz com que o
homem perca a confiança em si, sentindo-se inseguro, sujo. Torna-se
assim uma presa fácil, pronto para obedecer aquele que preencher este
vácuo.
Outra forma é acabar com a noção de valores do homem,
matando sua capacidade de reconhecer a grandeza ou de alcançá-la. A
mediocridade é colocada num altar, tudo que é "lugar-comum" passa a ser
enaltecido, e desta maneira os templos estarão demolidos. Como no filme
Os Incríveis, quando o filho com super poderes protesta que dizer que
todos são especiais é o mesmo que dizer que ninguém o é. Acabando com a
reverência, matam o heróico no homem.
Um outro mecanismo
usado para o assassínio do ego é não deixar o homem ser feliz. Homens
felizes não têm tempo nem interesse em servir. São livres. Por isso, os
inimigos do ego não permitem a felicidade, não deixam os indivíduos
terem o que querem. Fazem com que as pessoas sintam que os desejos
pessoais são um mal, um pecado. As vítimas irão em busca de consolo,
apoio, fuga. Os sistemas éticos estabelecidos ao longo de séculos
pregam que o sacrifício está acima do prazer individual. A renúncia dos
interesses particulares é colocada acima da busca individual da
felicidade. A felicidade é atrelada à culpa. Jogar o primogênito no
fogo é prova de amor a deus, é nobre. Deitar numa cama de pregos é
nobre. Ir para um deserto, mortificar a carne, tudo que é sacrifício
passa a ser visto como a meta da vida, o leitmotiv da existência
humana. Porém, onde há sacrifício, existe sempre alguém recebendo as
oferendas. Onde há servidão, existe um mestre. Por trás dessa pregação
toda, enaltecendo o sacrifício humano, está um desejo de poder, de
controlar os outros. Aceitar tais valores como nobres é o caminho da
desgraça individual.
Como a razão é a maior arma contra tudo
isso, claro que anular o seu valor passa a ser outro método utilizado
pelos que querem destruir o ego. Assim, fazem com que a razão perca
força entre os demais instrumentos cognitivos. Afirmam que ela é
limitada, que há sempre algo acima dela. Que o importante não é pensar,
mas "sentir". Que ninguém é dono da verdade, logo qualquer teoria é
igualmente válida. As vítimas disso sequer notam que para concluírem
que a razão não importa tanto, faz-se preciso usar dela.
No
objetivo pérfido dessa gente, vale tudo. A meta é uma só: matar o
indivíduo e chegar ao poder. A defesa é utilizar justamente a
capacidade humana que tanto nos distingue dos demais animais: a razão.
Somente ela pode salvar o ego, colocar o homem no seu devido lugar. Não
como algo sacrificável para outros fins. Não como uma insignificante
parte de um coletivismo qualquer. Não como apenas uma casca para uma
outra vida imaginária. Mas como uma finalidade em si, com total direito
da busca pela sua felicidade.
Resumos Relacionados
- Porque A Duvida?
- Hoje Acordei Pensando Na Felicidade...
- FÉ Em Deus ! O ImaginÁrio Ou O Real ?
- Mude Seu Destino (prá Melhor)
- Bases Para Sua Conduta
|
|