A Sabedoria das Multidões
(Rodrigo Constantino)
“Collective decisions are most likely to be good ones when they’re made
by people with diverse opinions reaching independent conclusions,
relying primarily on their private information.” (James Surowiecki)
No
livro The Wisdom of Crowds, James Surowiecki defende a tese de que as
multidões desfrutam de mais sabedoria do que se imagina. Para um grupo
de indivíduos apresentar tal sabedoria, entretanto, precisa preencher
quatro condições: diversidade de opiniões, independência de julgamento,
descentralização e agregação. Apesar de ser uma idéia contra-intuitiva
a princípio, a suposta sabedoria das multidões não carece de lógica,
além de mostrar evidências empíricas a seu favor.
O segredo é
que os erros das estimativas individuais acabam se anulando em um
grande número de opiniões. Mas para que isso ocorra, faz-se necessário
satisfazer os requisitos acima. Caso contrário, não teremos erros
aleatórios, mas sim um viés, onde as opiniões não são realmente
independentes e individuais. Neste caso, estaríamos diante do que
Gustave Le Bon dizia ao se referir à “psicologia das massas”, um grupo
monolítico com pura emoção e nenhuma razão, adquirindo um senso de
invencibilidade e irresponsabilidade incontroláveis. O autor reconhece
que na maioria das coisas, média quer dizer apenas mediocridade. Mas no
processo de tomada de decisão, freqüentemente pode significar
excelência, quando satisfeitas as condições necessárias.
Surowiecki
cita como exemplo a ferramenta de busca Google, cujo algoritmo
baseia-se justamente na sabedoria das multidões, dando maior peso para
as páginas mais visitadas na hora da pesquisa. A enciclopédia Wikipidia
também seria baseada no princípio da sabedoria das multidões. Na
verdade, o livre mercado é justamente isso, um processo onde as
multidões, com suas escolhas individuais e independentes, selecionam as
melhores alternativas de acordo com suas preferências. No começo do
século XX, literalmente centenas de empresas disputavam para ver quem
ofereceria a melhor alternativa para os consumidores em termos de
automóveis. Havia uma gama enorme de variedades, inclusive com
diferentes tecnologias. Poucas, entre essas centenas, sobreviveram.
Eram as que melhor atendiam a demanda. As multidões de consumidores
tinham decidido. O mesmo padrão se repete em diversas outras indústrias.
Para
o melhor funcionamento deste processo, devemos ter a maior diversidade
de alternativas possível, com novas idéias surgindo o tempo todo. Claro
que, desta maneira, a maioria irá se tornar um fracasso. Mas as poucas
vencedoras são as que farão a diferença. A habilidade de rápido
reconhecimento e freio das idéias perdedoras é que torna o sistema
eficiente.
A premissa adotada na teoria da sabedoria das massas
é bastante atraente e sólida. Diz respeito ao conhecimento disperso,
contido de forma totalmente pulverizada na sociedade. Nenhum ser ou
pequeno grupo de pessoas poderia absorver todas as informações
espalhadas entre milhões de indivíduos. O economista austríaco Hayek
defende tal tese com perfeição, e sua influência não passa despercebida
pelo autor do livro. Ela vai contra a visão platônica de um grupo de
“sábios iluminados” que poderão escolher melhor pelo resto todo. A
informação está totalmente dispersa, além das preferências serem
subjetivas.
Um processo de livre escolha individual, em um
ambiente de regras básicas e bem definidas, pode apresentar, portanto,
resultados infinitamente melhores que aqueles oriundos de poucos
“sábios”. Até mesmo na natureza, observando animais irracionais, vemos
uma certa ordem espontânea surgir sem a figura do líder “iluminado”.
Seria fazer muito pouco caso do homem, animal racional, supor que cada
indivíduo é um completo mentecapto que necessita da direção traçada por
um ser “clarividente”. Na livre interação entre indivíduos,
respeitando-se as regras definidas previamente, há um claro incentivo à
cooperação, assim como a confiança mútua passa a ser um valioso ativo.
Preservando-se a diversidade, independência, descentralização e
agrupamento cooperativo, não há porque acreditar que o resultado não
será superior àquele obtido por um processo centralizado nas mãos de
poucos “especialistas”. Há sabedoria nas multidões. E o livre mercado é
o mecanismo de sua expressão.
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