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Preservacionistas Culturais
(Rodrigo Constantino)

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“Uma cultura só tem importância se for boa para os indivíduos”. (Kwame Anthony Appiah)

Em
entrevista às páginas amarelas da Revista Veja, o filósofo Kwame
Anthony Appiah explicou de forma bastante objetiva os riscos da visão
coletivista da cultura, em detrimento ao direito de livre escolha
individual. O autor é Ph.D. pela universidade de Cambridge e lecionou
em Harvard, além de ter lançado recentemente o livro Cosmopolitanismo:
Ética em um Mundo de Estranhos, onde defende que a globalização fez bem
às culturas regionais. A globalização não uniformiza, diversifica. A
reclusão é que exaure a inspiração. Culturas fechadas estão fadadas ao
insucesso. Basta comparar a diversidade nos Estados Unidos, com
inúmeras culturas diferentes convivendo lado a lado, com a maior
homogeneização de uma Coréia do Norte, isolada do mundo.

A
população deve ter a liberdade de escolha de quais produtos culturais
deseja consumir. Appiah dá o exemplo das camisetas que os africanos
usam, deixando de lado suas roupas coloridas tradicionais. Se as
camisetas cumprem a função de cobrir o corpo e são mais baratas, que
mal há em deixar as vestes tradicionais para ocasiões especiais apenas?
Tirar o direito de escolha dos indivíduos em nome da preservação
cultural beira o desumano, e normalmente quem pensa assim está longe,
no conforto justamente de culturas mais liberais. O mesmo vale para o
resto dos produtos existentes. Os indivíduos devem ser livres para
decidir qual filme desejam assistir, qual música querem escutar ou qual
comida pretendem comer. Quanto mais liberdade de mercado, com abertura
para diferentes países e culturas, maior o número de opções disponíveis.

Infelizmente,
uma sombra de hipocrisia faz com que muitos ignorem isso. Appiah chama
de preservacionistas culturais aquelas pessoas com bom padrão de vida
em algum país ocidental, normalmente, que olham para as culturas
diferentes e exóticas como algo interessante, bonito, que deveriam ser
mantidas para sempre da mesma forma. Algo como gente de classe média
alta que acha legal a manutenção dos índios como índios, ainda que
vários deles estejam inseridos na modernidade quando interessa,
voltando a representar o papel de “bom selvagem” quando convém apenas.
Essas pessoas querem, na verdade, “zoológicos” naturais. Querem
congelar no tempo certas culturas, ainda que nitidamente atrasadas ou
bárbaras, para a admiração do “estranho”, do diferente, mesmo que isso
signifique um custo enorme para os indivíduos membros dessas culturas.
Como o próprio autor diz, “se o costume é ruim para o bem-estar de uma
grande parcela daquela população, o fato de fazer parte da cultura não
é motivo para insistir no erro”. O foco deve ser o indivíduo e sua
liberdade de escolha, não a tribo, a nação ou a cultura. A cultura não
é um fim em si, mas um meio para a felicidade dos indivíduos.

Por
isso que Appiah coloca a necessidade de uma definição entre o que vem
primeiro, se os direitos humanos ou os costumes estabelecidos, por mais
absurdos que estes sejam. Cortar à força o clitóris de uma mulher não é
uma “diferença cultural”, e sim um ato bárbaro, e ponto. O curioso é
que muitos defensores da ONU, do governo mundial e dos “direitos
humanos” são também os “multiculturalistas” ferrenhos, quase sempre
utilizando o “dois pesos e duas medidas” para condenar um lado da moeda
apenas: o ocidental. Fica mais fácil abraçar este discurso quando se
está no lado mais avançado, com mais liberdades e direitos. Mas pobres
dos indivíduos dessas culturas defasadas, que ficam impedidos de pegar
carona na modernização do mundo.

Por fim, o filósofo nos lembra
também que a parcela da sociedade que tem alguma forma de poder a
preservar é a que mais resiste à influência de culturas externas. As
idéias que vêm de fora desafiam as autoridades estabelecidas, e
governantes ou religiosos temem a perda de seu poder. Por isso é comum
vermos políticos fazendo leis que impedem ou dificultam mudanças
culturais. Querem controlar a população, e nada melhor para isso que
isolá-la do resto do mundo. Ninguém precisa do Estado para decidir
sobre aspectos culturais. O nacionalismo, aliado ao discurso de
preservação cultural, é uma poderosa arma nas mãos dos governantes. Os
indivíduos, vítimas disso, pagam um elevado preço.
Como Kant já
teria dito, ninguém pode me obrigar a ser feliz à sua maneira. Até onde
minhas escolhas geram impacto direto somente na minha própria vida,
devo ser totalmente livre para escolher. A questão cultural não deve
servir como uma escusa para a escravidão de indivíduos. Estes devem ter
a liberdade de escolha assegurada, não importa de qual cultura ou país
desejam consumir. Os indivíduos devem poder decidir sobre suas próprias
preferências culturais, sem a imposição de cima para baixo. Devemos
defender o pluralismo, não uma ditadura cultural, imposta pelo Estado.
O próprio entrevistado termina afirmando: “Nem todo mundo tem a mesma
idéia de qual é a melhor maneira de ser feliz”. Eu concordo. E por isso
repito: a liberdade individual está muito acima da cultura!



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