Dinamarca e Fanatismo
(Rodrigo Constantino)
“Não é possível discutir racionalmente com alguém que prefere matar-nos a ser convencido pelos nossos argumentos.” (Karl Popper)
O
artigo vem um pouco atrasado, para falar das charges de Maomé e da
reação alucinada que geraram entre muçulmanos fanáticos. Mas não tem
problema. Afinal, a reação dos extremistas também veio bastante
atrasada. Na verdade, levaram meses para mostrar revolta insana com uns
simples desenhos, curiosamente em um momento que muito interessava ao
Irã. O que está por trás dessa suposta loucura? Quem tem razão nesse
episódio?
Muitas pessoas, talvez por medo do Islã ou por
relativismo moral hipócrita, condenaram o próprio Ocidente e sua
liberdade de expressão. Querem voltar aos tempos onde era proibido ir
contra a fé e a religião. Acham que os jornais não tinham nada que
desrespeitar as crenças dos muçulmanos. Essas mesmas pessoas nada falam
quando o lado de lá diz que Israel deve ser exterminado do mapa, ou que
o Holocausto nem existiu. Também não fazem coro contrário quando filmes
ou charges ironizam a figura de Cristo. O respeito da fé acima de tudo,
aparentemente, tem dois pesos e duas medidas, como todas as demais
formas de relativismo. É só o Ocidente que tem obrigação de respeitar a
fé do Oriente. Este pode declarar a Jihad contra nós, pregando a morte
dos infiéis, sob um silêncio complacente até mesmo dos moderados, que
não tem problema algum.
Uma das possíveis causas do fanatismo
islâmico pode ser encontrada no maior achatamento do mundo, com os
avanços tecnológicos reduzindo a distância entre os povos. É a opinião
do colunista Thomas Friedman, em seu livro O Mundo é Plano. O autor
defende a tese de que, com a maior globalização e progresso da
Internet, não é mais possível fechar os olhos dos muçulmanos para a
realidade mundo afora. Fica mais evidente o atraso deles, o quanto
ficaram para trás em relação ao Ocidente. Vários terroristas, em suas
declarações, deixam claro esse ressentimento, uma busca de vingar a
humilhação perante o sucesso ocidental. Essas paixões viram um prato
cheio para o oportunismo de líderes inescrupulosos, que abusam de bodes
expiatórios externos para justificarem as atrocidades domésticas. Com
uma população extremamente jovem, economia dependente do ouro negro e
sem geração de novos empregos, ausência de liberdades individuais e
miséria crescente visível pelo choque de civilizações, há ambiente
fértil para uma fábrica de terroristas fanáticos. Não há como lutar
contra isso usando apenas a razão, afinal, tamanho fanatismo cria uma
barreira intransponível à lógica. Estamos diante de um caso claro de
rigidez cognitiva.
A cura de tal doença levará tempo. Será
preciso democratizar as atuais teocracias, separar a fé religiosa do
Estado, aumentar o grau de liberdade individual, reduzir a dependência
econômica do petróleo etc. Nada disso será da noite para o dia. Mas é
fundamental, para tanto, que os formadores de opinião não se curvem
diante do medo ou da hipocrisia. Achar que o problema está na liberdade
de expressão ocidental, em vez do fanatismo religioso dos muçulmanos, é
trocar totalmente as bolas. O mundo necessita de um julgamento objetivo
sobre esses acontecimentos, para o bem dos próprios muçulmanos que não
compactuam com as barbaridades perpetradas em nome do seu deus. Apelar
ao relativismo moral e culpar a liberdade de imprensa dinamarquesa pela
reação dos fanáticos é assassinar o bom senso. Devemos ser livres até
mesmo para blasfemar!
Marcelo, um oficial do reino da Dinamarca
na mais famosa peça de Shakespeare, afirma que “há algo de podre no
Estado da Dinamarca”, ao ver, espantado, o fantasma do Rei Hamlet. Eram
outros tempos. Talvez no começo do século XVII havia mesmo algo de
podre no reino da Dinamarca. Mas atualmente, o país conta com ampla
liberdade individual. A imprensa é livre, a economia é livre, e a
Dinamarca está na oitava posição no ranking de liberdade econômica do
Heritage. A renda percapita beira os US$ 40 mil. Trata-se de um país
avançado em todos os sentidos. O jornal dinamarquês tem total direito
de desenhar uma charge de quem quiser, seja Maomé, Jesus, Buda ou o
Papa. Os muçulmanos fanáticos é que não têm direito de incendiar
embaixadas e matar gente por causa disso. Se Shakespeare vivesse nos
dias atuais, provavelmente escreveria que há algo de muito podre nas
teocracias islâmicas...
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