Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens
(Jean-Jacques Rousseau)
Rousseau incia o seu discurso dizendo que o homem que deu início à sociedade civil foi aquele que cercou um pedaço de terra e disse que era seu, enquanto os outros acreditaram. Porém continua dizendo que a idéia de propriedade não foi gerada espontaneamente e não passou, de um momento para outro, a participar da vida do homem, mas foi sendo construída ao longo da formação e desenvolvimento do pensamento social humano – o primeiro homem de posse não criou do nada, foi um produto histórico – , e é o trajeto desse desenvolvimento que o escritor pretende lançar seu texto. Ele de certa forma narra como seria a forma possível da história humana que poderia ter acontecido. Diz que no princípio poucas eram as diferenças entre homens e animais, pois ambos viviam de impulsos inconscientes e instintos para saciar necessidades básicas como a fome, a reprodução, a conservação da vida.
A competição com os outros animais, mais fortes, velozes, altos, fizeram com o que ser humano fosse desenvolvendo técnicas com utensílios, como galhos e pedras, fazendo-os de armas. A expanção geográfica fez também com que o homem se adaptassem aos novos ambientes, criando roupas e itens para facilitar a sua vida. Aos poucos, o homem foi desenvolvendo uma habilidade de prever e deduzir, e assim foram surgindo as armadilhas e outras formas semelhantes de ataque, onde ele vencia animais de força e outros atributos maiores.
Com o convívio em grupos, as pessoas foram criando a noção de percepção do outro, vendo que todos os indivíduos próximos se comportavam de maneira semelhantes, e foram constituindo, naturalmente, regras simples para manter a segurança da comunidade. Podia acontecer duas situações no grupo: quando a vontade de um indivíduo era igual aos outros membros, assim formava-se um grupo para atingir o que se deseja; a vontade de um não era compatível com a de mais alguém, assim aquele via-se sozinho para se arranjar. Assim os homens foram percebendo que podiam ganhar vantagem com a ajuda dos outros.
Também ao se perceberem, uns foram se destacando como mais fortes, mais belos, mais habilidosos, e isso foi criando uma imagem individual – a “estima pública”. Talvez essa tenha sido a primeira propriedade do homem, visto que a partir daí sugiram as ofensas; pois a ofensa significa um ataque à propriedade de outro, mesmo que seja a sua imagem. A intolerância e a inveja, junto à moral, passaram a conviver entre os homens, e estes precisaram retê-las com vinganças e atitudes coercivas para viver da melhor forma.
Mas aos poucos novas necessidades e oportunidades foram surgindo ao ser humano. Uma delas foi o trabalho. Enquanto cada um produzia sozinho o que consumia sozinho, o mundo era igual. Porém, quando passou-se a exceder as necessidades e perbeceu-se a vantagem desta sobra, a desigualdade e a propriedade surgiram no mundo. Rousseau vê a metalurgia e a agricultura como os primeiros trabalhos que fizeram o homem iniciar a civilização e aumentar os níveis de desigualdade e miséria. Apesar de desconhecer como se descobriu a manipulação do ferro ou o início da agricultura, ele deduz que o homem já tinha um excedente de tempo para se dedicar a essas descobertas.
Mas para que um indivíduo pudesse trabalhar com o metal, outro deveria produzir alimento para aquele; essa necessidade fez a descoberta de que o ferro poderia aumentar a produção de alimentos. Essa descoberta, aliada ao trabalho contínuo do homem sobre a terra, fez surgir a propriedade individual, tanto da terra quanto dos seus produtos. Para esse novo elemento social surgiu um novo direito, o “direito da propriedade”, que divide lugar com o direito natural.
Por não serem estáveis os níveis de produção e consumo, a desigualdade foi se alastrando e, nas palavras sintéticas do pensador, “Tendo as coisas chegado a esse ponto,é fácil imaginar o resto.”. À medida que o espírito humano evolui, aumenta sobre ele a pesada carga de necessidaddes e aparências que ele precisa ostentar diante seus semelhantes. E essa vontade inescrupulosa e “selvagem” faz ele explorar e assaltar os seus irmãos, para sempre manter o seu status. Até chegar num ponto onde o pobres e miseráveis se rebelarem contra os ricos e possuidores das terras.Rousseau, para explanar a sua concepção da sociedade desigual, contra-argumenta brilhantemente contra aqueles que dizem: “eu trabalhei muito para ter o que tenho!”, falando que não é problema um ter outro não ter, e sim uns poucos terem em excesso o que muitos não têm nem o mínimo, e por isso vivem em miséria e decadência, além de não terem culpa de nascerem sem propriedade alguma. Posto que a sociedade estava em guerra declarada e não vale a pena os ricos batalharem com os pobres (pois somente quem tem dinheiro gasta para manter batalha), os ricos pediram trégua para oferecer um contrato mais justo e com leis mais iguais. Com o consentimento de todos por essa proposta falaciosa, Rousseau crê que aí terminou completamente a liberdade do homem natural, e o homem civilizado se fechou no mundo civil, onde não haveria fuga da propriedade e de seus males. O ponto final, portanto, da civilização, seria a legitimação através do direito da desigualdade na sociedade civil.
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