O Declínio de Porto Rico
(Rodrigo Constantino)
A revista The Economist trouxe uma interessante matéria sobre Porto
Rico esta semana, mostrando a deterioração do quadro econômico do país.
Porto Rico é território americano por mais de um século, e seu povo tem
cidadania americana desde 1917. Esta proximidade com os Estados Unidos
contribuiu muito para o enriquecimento do país no passado, mas a
economia vem mostrando sinais de desgaste nas últimas três décadas. A
culpa poderia ser encontrada no excesso de governo.
A renda per
capita do país estava em US$ 12 mil em 2004, um bom patamar para os
padrões do Caribe, mas menos da metade de Mississipi, o estado
americano mais pobre. A taxa de pobreza era quatro vezes maior que a
média nacional americana. Os “anos dourados” após a Segunda Guerra
parecem ter chegado ao fim. Desde 1970, Porto Rico tem ficado para trás
se comparado aos tigres asiáticos ou Irlanda, que tinha então uma mesma
renda per capita. O governo americano assumiu um papel grande demais na
economia local, e um agigantado “welfare state” tem prejudicado a
dinâmica do país. As transferências federais para Porto Rico aumentaram
drasticamente desde 1970, e ainda correspondem a cerca de 20% da renda
pessoal na ilha. Algo como 30% dos empregos estão no setor público.
Como lamentou o próprio prefeito de Aguadilla, Carlos Méndez, “tudo que
querem é achar segurança apenas”. Ele completa que “não existe mais
ambição, todos querem trabalhar para o governo”. Como o governo não
cria riqueza, um país sempre encontra dificuldades quando muitos querem
os privilégios do setor público. Afinal, quem paga a conta assume um
fardo cada vez maior. E como resultado concreto disso, a renda per
capita de Porto Rico vem caindo em relação a americana desde 1970,
enquanto países mais liberais, como Cingapura, Taiwan e Irlanda, vem
reduzindo bastante a diferença.
O excesso de controle estatal
gera um efeito moral perverso. As pessoas passam a ver os bens e
serviços disponíveis como “direitos naturais”, passando apenas a
disputar pela via política mais e mais privilégios. O “welfare state”
acaba criando problemas de conflito em vários níveis, forçando as
pessoas a competir por suas parcelas de uma riqueza continuamente
decrescente. A “necessidade” passa a substituir o mérito, e a liberdade
individual cede espaço para mais e mais regulações e controles
estatais. A responsabilidade do próprio sustento deixa de ser uma
prioridade, pois os indivíduos consideram como certo que o Estado irá
prover suas demandas. Como crianças mimadas, ignorando como a riqueza é
de fato criada, os indivíduos exigem seus “direitos”, jogando a
obrigação de produzi-los para os outros. O caso de Porto Rico, com suas
mudanças nas últimas décadas, não é uma exceção. Podemos observar essas
características até mesmo na Suécia e demais escandinavos. Alguns estão
agora tentando adotar reformas mais liberais, devido ao fato desse
modelo se mostrar insustentável no longo prazo. A mentalidade de que
tudo que é desejado cabe ao Estado cria verdadeiros parasitas. Tivemos
um caso esdrúxulo na Escandinávia onde um idoso entrou na justiça para
exigir do Estado o pagamento de prostitutas!
A riqueza de uma
nação é criada pelos seus indivíduos, e quanto maior a liberdade
desses, maiores os incentivos para o trabalho e a conseqüente criação
de riqueza. Indivíduos reagem a incentivos. O “welfare state” acaba
reduzindo bastante os incentivos ao esforço individual, posto que a
responsabilidade individual é substituída por uma sensação de proteção
coletiva. No longo prazo, entretanto, trata-se de uma falsa proteção. O
caso de Porto Rico apenas corrobora, entre muitos outros, com essa
lógica. O país teria muito a ganhar se mudasse seu modelo, delegando
novamente ao próprio indivíduo a tarefa do seu sustento. Afinal, a
nação mais rica do mundo, da qual Porto Rico faz parte por acordo, foi
criada justamente com esta mentalidade.
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