A Ética no Lixo
(Rodrigo Constantino)
“Não se queixe da neve no telhado da casa do seu vizinho, quando a soleira da sua porta não está limpa.” (Confúcio)
Não
temos o direito de exigir uma determinada conduta ética dos nossos
vizinhos quando nós mesmos a ignoramos por completo. Dizem que o
exemplo correto vale por mil palavras na educação dos filhos. Creio
estarem certos. A ética da malandragem, o “faça o que eu digo e não o
que eu faço”, abre os portões do caos. Se queremos viver em uma
sociedade organizada e de confiança – e temos todos os interesses
individualistas para desejar isso – devemos abandonar urgentemente essa
postura imoral de cobrar dos outros o que não respeitamos
individualmente.
A popular “lei de Gérson”, de tentar tirar
vantagem ilícita em cima de todos o tempo todo, cria um ambiente
totalmente hostil ao desenvolvimento da sociedade. A relevância do
império da lei e da confiança mútua não pode ser subestimada para o
sucesso de uma nação. Saber que o próximo irá respeitar as regras
isonômicas, e que quando não o fizer será punido, é um ótimo estímulo
ao bom andamento das trocas voluntárias entre os cidadãos. Por outro
lado, quando impera a lei da selva, quando cada um tenta apenas tirar
proveito da inocência alheia ou se organizar para defender seus
interesses, por mais injustos e nefastos que sejam, temos um convite
irresistível ao atraso. Nenhuma civilização progride decentemente desta
forma.
Não fazer com o próximo aquilo que você não gostaria que
fizessem contigo é um aforismo bastante razoável, de claro apelo
individualista, mas que gera um bom resultado para o coletivo.
Infelizmente, esta máxima tem sido bastante ignorada em nosso país,
desde os pequenos atos até as decisões que alteram o rumo da nação.
Quem realmente respeita o próximo e evita trafegar pelo acostamento
durante o engarrafamento? Com receio de ser o “único otário”, a grande
maioria acaba aderindo à tentação, prejudicando o resultado geral e
todos aqueles que respeitam as regras. Da mesma forma, quantos se dão
ao trabalho de recolher as fezes do cão na calçada? Esses exemplos – e
existem muitos outros – são simples, do cotidiano, mas denotam o
abandono de um código de ética decente.
Transportando isso
para os temas maiores, como a política, vemos um quadro mais
preocupante ainda. Eleitores simplesmente parecem ignorar as manchas
éticas na trajetória dos candidatos, escolhendo-os somente por puro
imediatismo, com critérios totalmente imorais. Se o candidato me
garante um cargo público, entrega uma esmola estatal qualquer, discursa
com afinidade à minha ideologia, protege meu sindicato ou oferece algum
privilégio ao meu grupo de interesse, recebe meu voto. Nada mais
prejudicial ao bom funcionamento da democracia a longo prazo. Eleger
corruptos para defender um interesse imediato é garantia de perpetuar a
miséria em nosso país.
Dito isso, me espanta o fato do atual
presidente contar com ampla vantagem nas pesquisas de intenção de votos
para as próximas eleições. Afinal, trata-se de um governo atolado em
infinitos casos de corrupção, com fortes evidências ou mesmo provas. O
próprio Ministério Público já deflagrou o esquema de quadrilha montado
pelos principais membros do governo e aliados do presidente, que
confiava e ainda confia fielmente neles. São escândalos atrás de
escândalos, um mais grave que o outro. Os envolvidos não poderiam ser
mais próximos do presidente, que foi o maior beneficiado do esquema.
Nem mesmo seu filho escapou ileso.
A bandeira da ética, sempre
utilizada pelo PT, está completamente esgarçada pelas traças do poder.
E não obstante tudo isso, Lula será reeleito, ao que tudo indica. Qual
a mensagem que o cidadão brasileiro está mandando? O crime compensa?
Tanto faz roubar, contanto que pela minha causa? Se a reeleição de fato
se concretizar, parece que esse é o recado do povo. A ética será jogada
no lixo. Quando isso ocorre, normalmente o futuro da nação vai para o
lixo também. Pobresdaqueles cidadãos honestos, que não compactuam com
o crime nem são complacentes com os corruptos. Pagarão o preço da
irresponsabilidade e da falta de ética da maioria do povo.
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