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Atos de Heroísmo
(Helcio Queiroz)

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O que leva um bombeiro profissional em condições de alto risco em salvamento de pessoas a agir de forma heróica quando esgotadas todas as opções técnicas para a efetivação da operação?
Surgindo uma oportunidade para pesquisar este assunto no Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal, não medimos esforços para fundamentar uma idéia daquilo que passa pela mente de bombeiros ao responder prontamente ao chamado de socorro de alguém, mesmo com o risco da própria vida.
Sendo a psicologia um conhecimento de difícil compreensão, ocorreu-nos uma série de dificuldades ao longo da jornada de pesquisa e elaboração, mas o apoio encontrados em diversos profissionais, dentre estes, a orientadora da pesquisa à época, Dra. Ana Célia de Mello, fez com que muitas perguntas pudessem ser respondidas. Por outro lado, há muitas pesquisas a serem feitas.
O ponto de partida foi delimitar um ato de heroísmo; constata-se que a maior parte dos autores associam-no a um ato de altruísmo, renúncia de si mesmo[1]; concordou-se com essa idéia a princípio e o próximo passo seria identificar os heróis, tendo-se como ponto de partida o Grupamento de Busca e Salvamento, do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal.
Surgiu um impasse: que parâmetros seriam usados para saber se o ato realizado pelo bombeiro tinha sido heróico? Considerávamos a necessidade de um grau de consciência do risco que se estava correndo e a mensuração lógica deste risco. Concluiu-se a necessidade de analisar a percepção deste fato sob dois ângulos: (a) o do fato em si – determinando os riscos - e (b) o do bombeiro, determinando sua consciência destes.
No fato, considerando o terreno o local que proporciona a atividade heróica, classificou-se com base no nível de risco e dos equipamentos disponíveis para avaliar o que gerou a decisão da atuação BM; surgem três tipos:
(i). O fato nível 1, induzido pela atividade, ou seja, a própria natureza profissional induz no bombeiro um comportamento de risco a cada operação; este risco tem viés subjetivo, mas sua consistência é perfeitamente mensurável por um raciocínio lógico que determina padrões de conduta operacional para cada situação. Neste fato estão compreendidas todas as operações bombeirísiticas ordinárias cuja atuação finalizou com sucesso; pequenos arranhões, queimaduras, intoxicações leves, irritações orgânicas, dentre outras lesões tênues nos bombeiros são parte do exercício profissional, embora a busca pela minimização destes deva ser sempre perseguida.
(ii). Fatos nível 2, extraordinários ou decorrentes do infortúnio, sendo aqueles em que o bombeiro dispõe de todos os equipamentos necessários à solução da ocorrência, mas certos fenômenos se desenvolvem de forma inesperada, não por imprevisíbilidade, mas não teve a análise adequada do risco; desabamentos, explosões, rompimentos de cabos etc representam os casos mais comuns. Exemplo deste são os bombeiros falecidos na Ilha do Braço Forte, no Rio de Janeiro, onde era humanamente impossível prever a explosão sob a posição em que estes se encontravam.
(iii). Fatos nível 3 ou excepcionais, como aqueles em que há riscos potenciais de vida para o bombeiro decorrente de ausência ou falha do equipamento profissional necessário, mas que exige medidas urgentes, sendo o tempo um dos grandes obstáculos; na verdade as condições de segurança são distorcidas e os profissionais têm como intenção realizar o salvamento a qualquer custo; algumas vezes a operação é um sucesso; em outras, geram graves conseqüências para os bombeiros ou para as vítimas. Exemplo: o salvamento de um pára-quedista que caiu no lago Paranoá em 5 de Setembro de 1979, tendo sido salvo pelos soldados Altamir de Sousa Lobo e Edson Gomes da Costa; para a realização desse salvamento, a lancha em que estavam apresentou defeito mecânico, eles tiveram que ir à nado; foram promovidos por bravura.[2]
Quanto ao item (b) bombeiro, que tem como fator a decisão de agir combinado com a sua consciência dos riscos há também duas classificações:
(i). Atitude profissional objetiva, de caráter eminentemente pragmática, obedecendo unicamente a procedimentos técnicos aprendidos nas escolas, cujos riscos não ultrapassam o limite profissional necessário.
(ii). Atitude subjetiva ou de iniciativa, caracterizando-se essa por uma subjetividade consciente que supera os limites dos equipamentos e das técnicas aprendidas, ultrapassando o dever-fazer da atitude anterior, consubstanciada por um bom nível de criatividade, destreza e inventividade.
Concluímos então o perfil dos bombeiros que desejávamos estudar: o bombeiro que tivera a iniciativa consciente de agir em um caso excepcional, sendo chamado de herói autentico; esse era o objeto da pesquisa para analisar o seu perfil.
Montou-se um trabalho experimental com quarenta combatentes, grupos de estudo e um grupo de controle, e ao final apontamos oito bombeiros ao serviço de psicologia para serem avaliados pelo serviço de psicologia da ABM/CBMDF. O resultado distinguiu um perfil nos bombeiros militares apontados como heróis: a atitude ativa positiva para a ação. Esse é o perfil do herói autentico, não sendo apenas um ato de altruísmo, mas sim um caráter de não suportar ver algo errado que sente o ímpeto de tentar solucionar. Neste caso, a solução é o salvamento de uma vida.
Foi com grande emoção que chegamos a essa conclusão e com orgulho oferecemos aos bombeiros mortos em serviço pois são eles os baluartes que dão sustentação à doutrina de vidas alheias, riquezas salvar.




[1] Por exemplo, Flávio Kothe, no livro o herói, editora Ática, 1987, e Fernando Bastos de Ávila, em Pequena enciclopédia de moral e civismo, 1967.

[2] Comando Geral do CBMDF, Portaria de 17.10.80.



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