MITOLOGIA (mitos, rituais, lendas)
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O mito é um ingrediente vital da civilização humana; longe de ser uma fabulação vã, ele é, ao contrário, uma realidade viva, à qual se recorre incessantemente; não é, absolutamente, uma teoria abstrata ou uma fantasia artística, mas uma verdadeira codificação da religião primitiva e da sabedoria prática. São tradições, práticas, valores, ideais, mitos e fantasias muito presentes em uma sociedade em que se manifestam, desde os seus primórdios: o fetichismo, a pajelança, o candomblé, a umbanda, a quimbanda, o espiritismo popular, o catolicismo rural e outros traços mais ou menos notáveis de origem não só indígena, africana e portuguesa, mas também ibérica e mediterrânea.
Com o passar dos séculos, o homem foi desconectando-se mais e mais de seus símbolos originais, tornando-se um ser essencialmente racional e lógico, provocando assim uma dissipação dos seus conteúdos mais ricos inconscientes, separando-o de sua real natureza, levando a humanidade a uma crise por novos valores simbólicos, trazendo sérias implicações para o auto-conhecimento, levando o homem a sentir-se só no universo. Uma coisa é certa: o homem precisa relacionar-se com estruturas simbólicas, pois, ao contrário, muitas psicopatologias criarão espaço cada vez mais no cenário humano. Se um homem não sonhasse, certamente ficaria louco; o símbolo salta do inconsciente, feito um jato de vapor que sai de uma panela de pressão, trazendo consigo alegoricamente, fortes cargas emocionais, impressões, aspectos densos da psique. Como pudemos notar, a função do símbolo, não é só expressar conteúdos inconscientes; antes de tudo, ele é um regulador psíquico de grande valor, ferramenta indispensável para o caminho da individuação.
Uma extensa variedade de símbolos pode ser associada a um padrão. Por exemplo, o protótipo materno compreende não somente a mãe real de cada indivíduo, mas também todas as figuras de mãe, figuras nutridoras. Isto inclui mulheres em geral, imagens míticas de mulheres (tais como Vênus, Virgem Maria, mãe Natureza) e símbolos de apoio e nutrição, tais como a Igreja e o Paraíso. O modelo materno inclui aspectos positivos e negativos, como a mãe ameaçadora, dominadora ou sufocadora. Na Idade Média, por exemplo, este aspecto do modelo estava cristalizado na imagem da velha bruxa.
Aquilo a que nós chamamos de símbolo pode ser um termo, um nome ou até uma imagem familiar na vida diária, embora possua conotações específicas além de seu significado convencional e óbvio. Assim, uma palavra ou uma imagem é simbólica quando implica alguma coisa além de seu significado manifesto e imediato. Esta palavra ou esta imagem tem um aspecto inconsciente mais amplo que não é nunca precisamente definido ou plenamente explicado.
Infelizmente, muitos pais desejam ver seus filhos com as cabeças funcionando racionalmente como as suas, e acreditam que a maturidade deles dependa exclusivamente do ensinamento lógico oferecido pela maioria das escolas que, via de regra, em nossa sociedade moderna, nada mais fazem que repassar um conteúdo pedagógico desprovido de maiores significados para a vida. Esquecem-se de explorar os sentimentos como fundamental ingrediente para a formação do caráter e, ainda que bem alfabetizem, desconsideram os contos de fadas como se estes só gerassem confusões quanto aos conceitos sólidos de realidade que devem ser ensinados às crianças. Pecam gravemente por isso.
Desconsideram a fantasia, acham um absurdo o irracional que chega ao ponto de permitir que a vovó engolida pelo lobo mau permaneça viva em sua barriga até ser salva, ou que Bela Adormecida durma enfeitiçada um sono de cem anos, e João suba num pé de feijão até alcançar no céu o castelo de um gigante, justamente pelo inverossímil que expõe, provoca uma reviravolta em nosso mundo psíquico que, estimulado, aguça-se na tentativa de compreendê-la. E não há como explicá-la pelos padrões da razão metódica. A história de fadas é por si sua melhor explicação, do mesmo modo que as obras de arte encerram aspectos que fogem do alcance do intelecto, já que suscitam emoções capazes de comover os que diante delas se colocam. O significado desses contos está guardado na totalidade de seu conjunto, perpassado pelos fios invisíveis de sua trama narrativa. Claro que, diante desse mistério, muitas formas de abordá-lo são possíveis e igualmente válidas, posto que acrescentam luz à sua compreensão. Mas como adultos, temos que ver o mundo por um outro lado. A vida cotidiana nos leva à realidade dura e fria do trabalho maçante, das contas no final do mês. O próprio Jung disse certa vez que nos contos de fadas melhor podemos estudar a anatomia comparada da psique. Quis dizer com isso que os contos de fadas espelham a estrutura mais simples, ou o esqueleto da psique, e que suas muitas peças acabam por fundir-se, compondo os grandes mitos que expressam toda uma produção cultural mais elaborada. E o mundo capitalista não nos permite ter tempo para a nossa própria psique, e por assim dizer, para fantasiarmos e sonharmos com histórias místicas que sonhávamos quando criança. Mas simbolizamos a vida real através do acompanhamento diário das novelas, do ler ou ouvir o que o horóscopo do dia nos diz do nosso signo, ou até mesmo qualquer nos vemos ajoelhados diante de uma imagem pedindo proteção à ela. Nos recusamos a acreditar em contos de fada, mas fantasiamos com o príncipe encantado. O ser humano coloca sua crença até em jogos de loteria, mas se o questionarmos sobre um mito, imediatamente diz não crer. Somos e seremos sempre levados a ter uma crença, um símbolo para todos os nossos ideais e isto nunca vai mudar.
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