Biotecnologia e o Espírito do Capitalismo
(Eric Cohen)
Quais as conseqüências do encontro do espírito do capitalismo moderno com os avanços da biotecnologia nos dias de hoje? O comércio do corpo começa a tomar proporções exageradas e invade o domínio do que deveria sempre ser considerado sagrado? Nós estamos colhendo inadvertidamente algo que certamente não planejávamos quando colocamos abaixo tabus durante a revolução contracultural do último meio-século? Adam Smith, Voltaire e Lutero têm a ver com plásticas de nariz?
Essas são algumas das questões que permeiam um notável artigo escrito por Eric Cohen e publicado na versão eletrônica do jornal The New Atlantis, do qual Cohen é editor.
Através de uma argumentação inteligente e bem informada, Cohen perpassa alguns dos temas centrais que informam o nosso estilo de vida, traçando paralelos instigantes e pertinentes.
O artigo, intitulado Biotechnology and The Spirit of Capitalism, começa com a constatação de que o espírito do capitalismo é tão variado quanto as almas dos homens modernos e anota que toda moralidade encontra algum lugar na sociedade capitalista atual. Segue por uma rápida definição da atividade básica que estrutura o capitalismo, o comércio, e por uma exposição do conceito que dá fundamento a todo o processo: a melhoria das condições de vida a que todos aspiramos. A partir desse ponto de partida, traça-se um panorama do que Cohen intitula Os Três Espíritos do Capitalismo e o que essas diferentes concepções da prática do comércio almejam. Os tipos de capitalismo identificados por Cohen são o da reforma protestante, estudado por Weber em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, que almeja a salvação espiritual através da prática do comércio, com este sendo entendido como missão, um chamado divino, uma forma de assegurar-se de que o desígnio divino está sendo cumprido através do lucro e do comedimento; a visão de Voltaire do fenômeno do comércio, diametralmente oposta, de que o comércio é uma maneira de assegurar uma vida terrena, tão somente, o mais confortável e prazerosa possível; e a concepção de Adam Smith que é a que logrou maior êxito até hoje, justamente por tentar uma combinação e uma aproximação dos objetivos das concepções anteriores, uma teoria que estabelece que o comércio é o melhor meio para libertar os homens da servidão espiritual e material, ao mesmo tempo fornecendo-lhes iluminação e conforto.
Segundo o artigo nós vivemos hoje em um mundo totalmente moldado pelas concepções de Smith, com a preocupação de implemento material e espiritual dando o tom das atividades de comércio que permeiam as nossas mais banais atividades. O que se julga de maneira um tanto desfavorável é que com o avanço da medicina e da biotecnologia em particular, o que antes era considerado sagrado e protegido por um código ético rígido e herdado por várias gerações, o que ele chama de herança da burguesia, agora se transforma em objeto de comércio: a intimidade, os padrões de beleza, o corpo e o espírito humanos.
Através de uma série de exemplos perfeitamente normais e plausíveis, quando não tirados diretamente da realidade cotidiana de qualquer habitante do mundo ocidental atual, Cohen expõe as contradições e as incongruências que a atividade comercial vem assumindo nestes tempos através do desejo desesperado não mais por aperfeiçoamento pessoal, por uma aceitação de certos limites e fronteiras dentro das quais é perfeitamente possível atingir muitas e necessárias melhorias, mas sim da busca de uma perfeição informada por padrões morais inexistentes e, por outro lado por padrões estéticos absolutamente irreais. Dessa forma, cirurgias plásticas ( na verdade, a epidemia delas ), tratamentos com anti-depressivos, fertilização in vitro, a possibilidade de escolhas genéticas para gerar um filho, etc, são analisadas por um prisma humanista que coloca em foco não a necessidade, não se sabe se real ou meramente fabricada por demandas de mercado, de perfeição, de ajustamento a padrões estéticos, mas sim a procura de conforto, tanto espiritual quanto material.
Cohen não deixa de analisar as contradições existentes entre os que defendiam as quebras de tabu da contracultura e hoje lutam contra transformação do homem em mercadoria, fruto dessas mesmas transgressões e outros assuntos laterais ao tema neste belo artigo. Quem quiser dar uma olhada, vale a pena acessar o endereço http://www.thenewatlantis.com/archive/12/cohen.htm e ler na íntegra as opiniões expressas nele.
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