As Máscaras da Timidez
(Rossana Pecorara)
Definida como sentimento de embaraço ou de inibição em situações sociais, a timidez faz o sujeito focar a atenção quase exclusivamente em si mesmo e ficar preocupado com o que o interlocutor poderá pensar sobre aquilo que diz ou sobre o que está sentindo (por exemplo, ansiedade e embaraço revelados pelo rubor). Em geral a timidez e a introversão são consideradas sinônimas, mas não é exatamente assim: o introvertido procura a solidão, mas, ao contrário do tímido, não teme o contato social. O tímido deseja a companhia de outros, porém considera-se incapaz de manter uma relação. Alguns componentes podem ser reconhecidos na timidez. O afetivo refere-se às emoções típicas experimentadas pelos tímidos nas situações sociais: ansiedade, confusão, embaraço e vergonha, acompanhadas por sensações psicofisiológicas como tensão muscular, batimento cardíaco acelerado e um "aperto" no estômago. O cognitivo refere-se à excessiva atenção dada aos julgamentos dos outros ("Todos estão me olhando e me avaliando"), à avaliação negativa de si mesmo ("Só disse bobagens") e a um sistema irracional de convicções ("Esta noite, na festa, ninguém me notará ou me achará interessante"): estes são os modos típicos de raciocinar das pessoas tímidas. O resultado é uma acentuada inibição do comportamento, que consiste em evitar ativamente os contextos sociais e se manifesta no olhar que se desvia, na sistemática recusa a encontros sociais e no isolamento em geral. Tudo isso pode, evidentemente, prejudicar a formação de relacionamentos e a obtenção de objetivos acadêmicos e profissionais. Porém, a maioria dos tímidos efetivamente se empenha em superar a timidez. A estratégia mais utilizada é a “extroversão forçada” (escolhida por dois entre três tímidos), que consiste em obrigar-se a freqüentar locais públicos e procurar a presença de outros. Um a cada quatro tenta superar o problema minimizando a suposta periculosidade das situações sociais e procurando tornar mais positiva a visão dos outros (extroversão cognitiva auto-induzida). Uma terceira alternativa é buscar informações sobre o embaraço que sentem, lendo manuais de auto-ajuda ou freqüentando seminários sobre o tema. A procura de ajuda profissional assemelha-se, conceitualmente, a essa estratégia: terapia individual, de grupo ou seminários sobre como reforçar a auto-estima. Menos saudável e mais perigosa é a chamada “extroversão líquida", obtida mediante o consumo de remédios não receitados, drogas ou álcool para reduzir a tensão nas situações sociais e tornar a pessoa mais desenvolta. Alguns tímidos procuram praticar exercício físico para sentir-se melhor e, assim, aprimorar a relação com os outros; os que tentam emagrecer, influir na própria aparência física e se tornar mais atraentes; e os que nada fazem para aumentar sua sociabilidade. Apesar da existência destes últimos, contrariamente ao que se pensa, os tímidos em sua maioria não são passivos e indolentes, mas se esforçam para resolver o que consideram ser um problema, ainda que nem sempre os resultados sejam os esperados. Segundo estudo recente, realizado por um grupo da Harvard Medical School, o fato de uma pessoa evitar coisas, pessoas ou situações novas pode depender, ao menos em parte, de diferenças cerebrais existentes desde a infância. De fato, quando imagens de rostos desconhecidos são apresentadas a tímidos, é possível observar neles um nível de ativação mais elevado na amígdala, uma pequena formação que regula alguns dos processos emotivos mais importantes e integra o sistema límbico. Nas pessoas extrovertidas, ao contrário, a ativação da amígdala é menos acentuada. Por meio de uma pesquisa longitudinal realizada graças a novos recursos tecnológicos, entre estes a ressonância magnética funcional (fMRI), pôde-se observar que as mesmas diferenças de temperamento e os mesmos padrões de ativação neurofisiológica observados em um indivíduo muito jovem estarão presentes nele anos mais tarde. Um primeiro experimento subdividiu em duas categorias uma mesma amostra de crianças, todas com 2 anos, conforme seu grau de inibição ou desinibição diante de estímulos desconhecidos. Dezesseis anos mais tarde essa mesma amostra, agora adolescente, foi submetida a uma ressonância magnética que "registrou" imagens das áreas cerebrais ativadas durante a visão de seis fotografias de rostos desconhecidos (com expressão neutra) apresentadas várias vezes. Na fase de controle experimental, os jovens observavam, sucessivamente, um número maior de imagens, algumas novas e outras que faziam parte do grupo de fotos vistas antes. Se um aumento da atividade da amígdala em resposta a rostos novos é de fato natural, as pessoas classificadas como "inibidas" revelaram uma reação significativamente mais intensa que a do resto da amostra. Os resultados da pesquisa levaram os cientistas por ela responsáveis à conclusão de que freqüentemente alguns traços de personalidade tendem a permanecer quase imutáveis ao longo da vida, a despeito do contexto de desenvolvimento e da experiência acumulada. Constataram, além disso, a existência de uma estreita relação entre a timidez precoce e o desenvolvimento sucessivo de fobia social (como ocorreu em dois casos da amostra), Porém, os cientistas alertam que, devido ao fato de o elo entre timidez e fobia social não ser automático, o ser tímido não deve ser considerado, por si só, patológico.
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