Nascido em 4 de Julho
(Rodrigo Constantino)
"We hold these truths to be self-evident, that all men are created
equal, that they are endowed by their Creator with certain unalienable
Rights, that among these are Life, Liberty and the pursuit of
Happiness." (Declaração da Independência Americana, 4 de Julho de 1776)
Dizem
que errar é humano, mas insistir no erro é burrice. O que falar então
de uma insistência ininterrupta, ano após ano, por 230 anos? Hoje é o
aniversário daquilo que foi um dos marcos mais importantes do mundo, a
Declaração da Independência Americana. Ali estaria selada, em poucas
palavras, a função básica do governo, afirmando categoricamente a
soberania do povo sobre o Estado. Cada indivíduo seria livre na busca
pela sua própria felicidade. As regras seriam iguais, não os resultados.
Infelizmente,
o homem tem memória curta, e esquece das aulas básicas de seus grandes
pensadores. A visão de curto prazo, aliada à mentalidade de se dar bem
explorando os outros, faz com que uma multidão troque a liberdade por
algum favor do governo. A ignorância, somada ao desejo de ganho fácil,
faz com que a massa deposite sua esperança num messias salvador,
delegando função paternalista ao Estado. A perfídia, com pitadas de
romantismo utópico, fazem com que uma elite formadora de opinião
condene a meritocracia e pregue soluções coletivistas para os problemas
do mundo, levando ao socialismo ineficiente e injusto.
O
governo não está acima do povo, mas sim depende de seu consentimento
para ser validado. E isso não quer dizer, de forma alguma, que uma
maioria está livre para fazer o que bem entender. A democracia não deve
levar a uma ditadura da maioria. Os direitos individuais deverão ser
sempre respeitados, e era esse o foco da Declaração que fundou a
República americana. Cada indivíduo deve ser livre para perseguir sua
felicidade, sem invadir a liberdade do outro. Reparem que não há como
um governo garantir a felicidade, mas apenas o direito de cada um
buscar a sua, livre da coerção alheia. E notem também que nesse
percurso, o direito de um não pode destruir o direito do outro. Essa
valiosa lição é hoje amplamente ignorada, com governos prometendo cada
vez mais, sem se importar que para dar algo a alguém, precisa antes
tirar de outro.
Na sabedoria de homens como Benjamin Franklin e
Thomas Jefferson, construíram-se os pilares que criariam a nação mais
próspera do mundo. Não há superioridade racial, não há fatores
genéticos, não há maiores recursos naturais, não há sorte. Foram os
princípios adotados por estes homens que possibilitaram um meio
amigável ao progresso humano. Foi a liberdade individual que estimulou
o empreendedorismo e a inovação. Foi o conceito de troca voluntária,
básico do capitalismo, que permitiu tamanho avanço. Os Estados Unidos
são o que são hoje por mérito de um modelo eficiente, justo e adequado
à natureza humana. Infelizmente, até os americanos vêm se afastando do
conceito original que tanto os distanciaram do resto do mundo. O
Leviatã estatal tem crescido por lá, alimentando-se das liberdades
individuais tão valiosas.
O pequeno texto da Declaração de
Independência deveria ser relido com maior freqüência, pois seus
ensinamentos são constantemente esquecidos num mundo onde idéias
coletivistas entram cada vez mais em moda. Trocam o objetivo conceito
de justiça pelo abstrato termo "justiça social", como se coubesse aos
burocratas do governo decidir como configurar a sociedade, escravizando
seu povo para isso. Ofuscam a liberdade individual em nome da visão
coletivista, como se existisse um "interesse nacional" ou "bem público"
que justificasse o sacrifício dos indivíduos.
A esperança é a
última que morre. Mesmo que distante do ideal de liberdade individual e
isonomia de tratamento, vários países adotaram a democracia ou
ampliaram as liberdades individuais nos últimos séculos. Vamos
continuar sonhando – e lutando – para que aquelas sábias palavras
proferidas há mais de dois séculos tenham profundo impacto nos
indivíduos. Hoje, dia 4 de Julho, o mundo todo deveria comemorar.
Afinal, não se trata somente do aniversário de uma nação livre, mas sim
da própria liberdade. Antes dos Estados Unidos, os países eram calcados
em tradições coletivistas, sem foco na liberdade individual. Como
defensor incansável da liberdade, fico muito feliz de ter nascido em 4
de Julho de 1976, exatamente dois séculos depois da independência
americana.
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