O fim da Guerra: E agora?
(Giuliano Pereira D'Abronzo)
Pois bem, a lógica venceu: o poderio militar das forças anglo-americanas, em poucos dias, foi capaz de depor um regime ditatorial num país que já perdurava por várias décadas. A tão aclamada força militar iraquiana resumiu-se em pequenos grupos isolados que enfrentaram, de forma desproporcional, máquinas, equipamentos e estratégias da coalizão liderada por ingleses e americanos.
Porém, com o final dos conflitos e com o surgimento de uma nova ordem para a nação iraquiana, algumas perguntas: A primeira delas é: onde se encontra a temível Guarda Republicana que, em nenhum momento, ofereceu resistência a invasão da coalizão? E surge outra; onde estariam guardadas as armas de destruição em massa que a coalizão insistiu em afirmar que o regime do ditador iraquiana possuía? Mesmo sendo invadido, em nenhum momento tais armas foram utilizadas e tão-pouco encontradas pelas tropas anglo-americanas e seus correlegionários. Os inspetores da ONU afirmaram que tais armas não existiam, porém os EUA, a Grã-Bretanha e seus aliados, pregavam a necessidade da guerra para destruir tais arsenais. E onde esses armamentos estão? E por que algumas nações não podem ter armamentos como a bombas químicas, biológicas e nucleares e a outras tal direito é consagrado? Quem determinou qual a nação poderá ser portadora dessa tecnologia? Por que então não determinar o fim de todas elas e aplicar sanções àqueles que insistirem em mantê-las? Essa pergunta poderia ser melhor respondida quando analisarmos o papel do órgão da ONU responsável pelo controle dessas armas e que sofreu forte pressão norte-americana, para que o seu secretário, um brasileiro, fosse destituído, pois o mesmo queria que os EUA fossem também analisados e investigados no que concerne à manutenção dessas armas de destruição em massa.
Seguindo nessa linha, podemos fazer outra pergunta igualmente espinhosa: Qual o papel da Organização das Nações Unidas (ONU)? Por que a resolução dela não foi cumprida? O Conselho de Segurança da ONU vetou a invasão do Iraque, no entanto, ao infringir tal determinação, nenhum dos agressores foram punidos. Ao contrário, apenas a população já massacrada do Iraque acabou por ser prejudicada, pois foram bombardeados, viram suas cidades serem destruídas, sofreram com a onda de saques, são encarados mundo afora com desconfiança, sem se esquecer dos anos de pavor que viveram nas mãos de Saddam Hussein. A guerra jamais será meio para a obtenção da paz. Não existe liame algum que os uma. A falácia que levou à guerra mostra que não existe nenhum outro interesse senão o econômico.
Mas podemos continuar ainda: Por que mundo afora inúmeras resoluções da ONU são descumpridas e algumas dessas nações não sofrem embargos econômicos? Basta olhar através da história e veremos a maneira como ingleses e norte-americanos lidaram e continuam lidando com as demais nações, intervindo na política e na economia deles sempre objetivando o interesse dos seus conglomerados industriais. A todos aqueles que poderiam contrariar seus interesses a política foi sempre a mesma, mudou-se a forma da intervenção, mudou-se o ano, mudou-se o local, mas o resultado objetivado foi sempre o mesmo. Basta lembrar dos países do Terceiro Mundo.
Por outro lado, podemos ainda analisar alguns fatos dessa guerra e extrair lições importantes. Conforme palavras do presidente norte-americano, George W. Bush, essa guerra ocorreu devido a um embate entre o “bem” e o “mal”, trazendo para sua nação o “dever” de defender o “bem”. Que “bem” é esse? E de onde viria essa assertiva? Quem os classifica como o “bem”, e quem representa o “mal”? Ao que tudo indica, o “bem” parece ser a subserviência aos interesses deles, norte-americanos, enquanto o mal é a não aceitação da política norte-americana. Mas deve-se ressaltar que o Iraque necessitava sim de uma política que o libertasse das mãos insanas de Saddam Hussein, porém, sob a supervisão da ONU. Mas devemos nos ater só à questão iraquiana; como o próprio primeiro ministro britânico disse, a luta deles é, na verdade, a luta pela libertação do povo iraquiano. Tais palavras, sentimentais, chega ao ponto de causar comoção! Então, por que não destinar 10% (dez por cento) de todo esse montante, para o combate a pobreza nas nações em desenvolvimento? Por que não perdoar a dívida externa dessas mesmas nações? Por que não cobrar das indústrias oriundas dos países industrializados uma política mais social e menos exploratória? O lucro ocorrerá, é fato, no entanto a política de respeito ao ser humano não é tão certa. Investindo na valorização do ser humano, o resultado de paz seria muito mais rapidamente atingido do que a destruição deflagrada por essa guerra.
Ficou claro nessa guerra que o interesse não era humanitário, porém a necessidade de resposta que os norte-americanos queriam em face do trágico atentado ocorrido em 11 de setembro de 2.001. Igualmente mostrou que a importância de algumas nações, como o Iraque, que possui petróleo em abundância e rios caudalosos (Tigre e Eufrates), fato raro no Oriente Médio, são estrategicamente necessários para a política norte-americana e precisam estar sob sua égide de influência. Além disso, as indústrias norte-americanas sofriam com uma recessão e necessitavam de algum novo mercado, e nada melhor do que começar com a reconstrução de uma nação que, a partir de agora estará totalmente dependente da política ianque. O Iraque tinha um ditador, e esse preceito foi imposto pelos norte-americanos e seus seguidores. E qual será o próximo argumento e quem será o “escolhido”?
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