Sobre a definição de justiça
(Santo Anselmo)
Santo Anselmo utiliza-se de diálogo para defender sua concepção de justiça; O texto começa com um discípulo urgindo seu mestre a dar-lhe uma definição de justiça. O discípulo afirma que, a seu ver, verdade e justiça são a mesma coisa. Para ele, toda verdade é retidão, e todo ser reto é também justo. Portanto, parecia-lhe que o fogo era justo e reto por ser quente, e a pedra por cair de lugares altos para lugares mais baixos. Então, o mestre mostra-lhe estar enganado. Explica-lhe que há uma distinção entre a justiça da natureza e a justiça do homem: a pedra faz o que deve por causa da natureza (a lei da gravidade, por exemplo), mas o homem deve querer fazer o que deve, há que ser uma escolha racional. Este é o primeiro argumento do texto. Em seguida, o discípulo pergunta se o cavalo é justo ao pastar, pois faz querendo o que deve. Coloca-se em questão, então, a natureza do animal; ele também tem querer, mas é um querer de necessidade , diferente do querer do humano. Quando o cavalo quer pastar, ele o quer como a pedra quer cair. O segundo argumento, então, é: não basta querer o que deve, há o tipo certo de querer. O discípulo, então impaciente, insta seu mestre a dar-lhe uma definição da justiça à qual se deve louvor . O mestre responde que não se encontra a justiça em nenhuma natureza que não conheça a retidão , acrescentando assim o conhecimento à definição: é preciso conhecer o que se quer e o que se deve, pois não se pode querer algo que não se conhece. A justiça que traz louvor a uma pessoa só existe na natureza racional (portanto não em uma pedra ou em um cavalo). O mestre passa a dar exemplos de justiça não louvável, para explicar que a retidão louvável não se encontra na ciência ou na obra, como seu discípulo havia colocado, mas sim na vontade . O primeiro exemplo é: se alguém fecha a porta da casa (por frio, ou outro motivo qualquer) e com isso impede que um assassino entre, não cometeu um ato de justiça louvável; o segundo exemplo é: não tem retidão de vontade (e portanto não cometeu um ato louvável) um ladrão forçado a devolver o que roubou; o terceiro exemplo: não é digno de louvor dar de comer a um pobre faminto para ser admirado, para aparecer, pois se deve querer o dever por causa deste dever, e por nada mais. Por conseguinte, a conclusão a que mestre e discípulo chegam é que a justiça é a retidão da vontade observada por causa de si mesma .
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