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Olney São Paulo, mártyr esquecido
(Iza Calbo)

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Vítima da ditadura militar, Olney São Paulo foi o único artista a ser preso e torturado por uma obra, o filme Manhã Cinzenta (finalizado em 1969 e baseado num conto de dois anos antes). Em 21 de junho de 1967, a equipe foi às ruas do centro do Rio gravar um protesto. Saldo: mil presos, 57 feridos e três mortos. O ator Sonélio Costa, o Índio, atualmente morando na França, foi detido no Dops por dois dias. No dia 13 de dezembro, o Ato Institucional número 5 viria para silenciar os protestos e a criatividade.
Manhã Cinzenta , classificado pelo criador como “ficção científica” foi exibido apenas para os amigos. Em agosto de 69, ganhou sessão prive na Cinemateca do MAM. Para evitar cortes, Olney fez várias cópias e enviou para outras cinematecas e festivais internacionais. Há cerca de dois anos ou um pouco mais, uma delas foi encontrada numa das latas de Cosme Alves Neto e encaminhada para recuperação. Em 7 de outubro, Olney e Maria Augusta, sua esposa, repassam uma cópia para um dos diretores da Federação Carioca de Cineclubes. Na manhã do dia 8, noticia-se o seqüestro de um avião brasileiro, desviado para Cuba.
Em meados do mês, Olney viaja para o Chile para negociar a distribuição de Grito da Terra e de Manhã Cinzenta , que em Viña Del Mar participa do II Festival de Cine Latino-Americano, sob o título Mañana sin Esperanzas. O nome de Olney é associado ao seqüestro do avião, pois Manhã Cinzenta foi supostamente apresentado a bordo.
Pascoal e Álvaro Miranda “visitam” a casa de Olney e confiscam vários documentos e projetos. No dia 9 de novembro, o Ministério da Aeronáutica diz que um dos seqüestradores era membro da Federação de Cineclubes e liga Olney ao caso. No dia seguinte, Olney se apresenta à Justiça para prestar depoimento. No dia 13, some de casa, retornando, já doente, no dia 22 por poucas horas, em companhia de agentes da Polícia Federal. É liberado no dia 5 de dezembro e internado na Clínica Atemde, com pneumonia dupla. Chega a passar o Natal e Réveillon com a família, mas retorna à clínica em 5 de janeiro. Olney tornara-se um homem atormentado.
Em 1970, ainda produzindo, retorna à Bahia com os filhos em férias. Em 18 de março, o promotor José Manes Leitão pede instauração de processo para apurar os responsáveis por Manhã Cinzenta . O filme, considerado subversivo, tem exibição proibida no Brasil. Na Europa, participa dos festivais internacionais. Em 21 de agosto retorna ao Rio para novos interrogatórios. Pela primeira vez no País, um cineasta é processado por produzir um filme. O denunciante: procurador Walter Wigderowitz, da 3ª Auditoria do Exército.
Olney é ouvido em inquérito presidido pelo coronel-aviador Rubens Gonçalves Arruda. Modesto da Silveira, advogado, assume sua defesa. Em 11 de maio, em meio ao turbilhão, uma alegria para o Velho Baiano, como é ainda hoje tratado pelo filho mais velho: o nascimento da filha Maria Pilar, que mora nos Estados Unidos. Em 21 de setembro, Manhã Cinzenta é finalmente exibido ante o Conselho de Justiça. Ao final, por três votos a dois, Olney é absolvido. Em 8 de novembro, o promotor Humberto Augusto da Silva Ramos pede a condenação, agora pelo artigo 15 da Lei de Segurança Nacional.
Em 13 de janeiro de 1972, o Superior Tribunal Militar absolve definitivamente o cineasta, opondo-se aos ministros Oliveira Sampaio e Syseno Sarmento. A Embrafilme assina em outubro o contrato para a produção de O Forte. No ano seguinte, Olney finaliza o documentário sobre Cachoeira. Terminam, em março, as filmagens de O Forte. Em outubro, embarca para a Alemanha, a convite do Festival de Mannheim, que premiou Manhã Cinzenta três anos antes. Visita Munique, Berlim e vai até a França.
Em setembro de 1977, termina de rodar O Dia de Erê. Em outubro, em Maceió, faz palestra num evento sobre cinema e fala do sonhado documentário sobre A Revolta dos Alfaiates. No dia 27, naquela cidade, sente-se mal. Mesmo assim, procura por lá locações para João Farrapo.
Muito doente, em 1978, amigos passam a visitá-lo. Entre estes, Glauber Rocha, de volta ao País. Olney é então internado no Hospital da Beneficência Portuguesa. O irmão e médico Carlos São Paulo chega ao Rio e depara-se com o diagnóstico de câncer generalizado e não apenas pulmonar. O cineasta é transferido para o Hospital São Carlos, em Humaitá.
Volta a Beneficência Portuguesa e, na noite de 15 de fevereiro, morre após três paradas cardíacas, aos 41 anos. Entre os roteiros inéditos, Rosa de Carmim, Santa Brígida, A Baiana, Um Crime na Noite, A Revolta dos Pardos e Ernesto Nazaré. “A morte não é o fim da vida e, sim, antes e mais que tudo é a vida o princípio da morte”, deixa em seu caderno de 1977, num dos trechos de um conto inacabado.
Para quem não conhece e ainda acha que Olney São Paulo não foi vítima do Regime Militar, este relato sinaliza em direção contrária, bem como o silêncio do próprio Olney, ainda em vida, sobre fatos ocorridos no cárcere.



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